ALERTA: NÃO RECOMENDÁVEL PARA A HORA DO
ALMOÇO! FAÇA A DIGESTÃO PRIMEIRO!
Aposto que agucei a vossa curiosidade com
este meu alerta inicial, hein?! É uma coisa que as pessoas deviam fazer mais
vezes. Tal como há o “spoiler alert”, para avisar as pessoas que o texto pode
contar mais do que deve, podia haver um “spoiler lunch”, que alertasse as
pessoas para o perigo de um texto nos dar à volta à barriga . Quantas vezes já
me aconteceu e não custa nada avisar...
Não foi o caso da notícia que li sobre um
autocarro em Madrid, que continha a seguinte mensagem publicitária: "Os
meninos têm pénis, as meninas têm vulva. Que não te enganem. Se nasces homem,
és homem. Se és mulher, continuarás a sê-lo".
Esta notícia chamou a minha atenção por
vários motivos. Primeiro, não deixa de ser fascinante, o quanto uma pessoa pode
aprender sobre os ultra católicos a ler estas notícias. Por exemplo, são
contra a educação sexual nas escolas, mas não são contra a educação sexual nos
transportes públicos.
Aí está uma sugestão que eu deixo às escolas do
país, darem as aulas de educação sexual dentro de um autocarro. Ou no
metro. Sentam as crianças na plataforma, sem ultrapassar a linha amarela,
(cuidado com isso!), e depois põem as carruagens a passar, com frases
importantes de educação sexual. Parece que assim é na boa.
A segunda coisa que me apraz dizer
sobre isto, é que também eu já pensei escrever uma mensagem destas, lá na porta
da casa-de-banho do escritório onde trabalho. Mas mudava um
bocadinho a construção e punha uma coisa assim: "Os meninos
têm pénis, as meninas têm clitóris. Que não te enganem. Se nasces mulher, és
mulher. Se és homem - hélas! - continuarás a sê-lo."
Agora, por favor, não me interpretem mal.
As minhas intenções estão longe de ser transfóbicas ou qualquer outra coisa de
parecido. A minha preocupação é só alertar as pessoas, para as falsas
expectativas que tantas e tantas vezes lhes estão a ser criadas, quando se submetem a operações e tratamentos estéticos
invasivos, tudo para se sentirem melhor consigo mesmas. Aliás, em minha defesa, já escrevi outras
coisas parecidas na porta do WC lá do escritório e não têm nada a ver
com transexualidade. A primeira, uma pequena homenagem ao Michael Jackson, dizia
assim: "Se o teu problema é no quinto andar, não faças obras no quarto
andar!"
Entenderam a metáfora? Quando as coisas
não andam bem no “quinto andar”, não adianta muito fazer as obras no “quarto
andar”?! E já agora, nem no terceiro e muito menos no segundo. Tenham juízo!
Olhem se nunca mais funciona?!
Há uns quinze anos atrás fui operada a um
joelho e
não é que tenha ficado pior do que estava, mas o que tinha sido mesmo fixe, era
nunca ter sido preciso ir à faca, porque melhor do que era, não conheço ninguém
que alguma vez tenha ficado.
A não ser há uns tempos, num concurso da Miss Venezuela que vi e que parecia mais um estaleiro do que um concurso de
beleza propriamente dito. Tirava-se um bocadinho ali. Enxertava-se um bocadinho
acolá. E no final ficava uma espécie de Frankenstein, mas em bom, tenho de
reconhecer. Só há um problema, onde fica a verdade desportiva da beleza
no meio disto? Será que as cirurgias estéticas, neste tipo de concursos, não
deviam ser consideradas doping e proibidas? Não sei mesmo…
Mas voltando ao autocarro de Madrid, o que
me interessa naquela mensagem, não é o homem e a mulher. Aquela mensagem podia ser tanto acerca de transexualidade, como acerca do
peso, ou da beleza, ou da falta de cabelo de uma pessoa. Se o teu pai é careca,
não te enganes, tu vais ser careca. Ou, se nasces baixo, não te deixes enganar,
nunca serás alto. Alguém ficava ofendido, se fossem estas as frases a circular
pelas ruas de Madrid? Afinal, a parte mais importante daquele alerta é o: “Não te
deixes enganar!” E a carapuça serve a toda a gente, não é só aos transexuais. Onde
fica a fronteira, entre as pessoas se aceitarem a si e ao seu corpo como ele é
e o declarar-lhe guerra, como o fazem os transexuais, ou alguns gordos, ou as
pessoas que se acham muito feias e/ou muito velhas? Até que ponto se pode nascer
num corpo errado, se é o corpo com que se nasce? E até que ponto não são falsas
as expectativas de quem acha que o pode mudar?
Bem sei que, quem mora no prédio é que
sabe se ele precisa de obras e onde, mas, às vezes, parece que as pessoas
preferem ser o patinho feio, a ser o cisne mais bonito do lago…
No meu caso,
se me dessem a chance de mudar, em vez de mudar de
género, escolhia uma coisa mais radical e trocava de espécie. Deixava de
ser um Homo Sapiens para trocar de cérebro com um Columba Livia, que para
quem não sabe, é um pombo. No meu caso, uma pomba. Esse aspecto não mudava. Era o meu sonho! Passar os dias a
sobrevoar a cidade e as vossas cabeças. Mentiria se não dissesse que pretendo
cagar nalgumas delas… mas não é só isso. Devoto grandes expectativas na
minha pessoa com cérebro de pombo. Nos dias que correm é dos melhores
cérebros que se pode ter. It’s a win-win situation! Pena os avanços da medicina
não acompanharem a velocidade dos meus sonhos.