segunda-feira, 13 de março de 2017

QUANDO AS COISAS NÃO ANDAM BEM NO QUINTO ANDAR...

ALERTA: NÃO RECOMENDÁVEL PARA A HORA DO ALMOÇO! FAÇA A DIGESTÃO PRIMEIRO!

Aposto que agucei a vossa curiosidade com este meu alerta inicial, hein?! É uma coisa que as pessoas deviam fazer mais vezes. Tal como há o “spoiler alert”, para avisar as pessoas que o texto pode contar mais do que deve, podia haver um “spoiler lunch”, que alertasse as pessoas para o perigo de um texto nos dar à volta à barriga . Quantas vezes já me aconteceu e não custa nada avisar...

Não foi o caso da notícia que li sobre um autocarro em Madrid, que continha a seguinte mensagem publicitária: "Os meninos têm pénis, as meninas têm vulva. Que não te enganem. Se nasces homem, és homem. Se és mulher, continuarás a sê-lo".
Esta notícia chamou a minha atenção por vários motivos. Primeiro, não deixa de ser fascinante, o quanto uma pessoa pode aprender sobre os ultra católicos a ler estas notícias. Por exemplo, são contra a educação sexual nas escolas, mas não são contra a educação sexual nos transportes públicos. 
Aí está uma sugestão que eu deixo às escolas do país, darem as aulas de educação sexual dentro de um autocarro. Ou no metro. Sentam as crianças na plataforma, sem ultrapassar a linha amarela, (cuidado com isso!), e depois põem as carruagens a passar, com frases importantes de educação sexual. Parece que assim é na boa.   

A segunda coisa que me apraz dizer sobre isto, é que também eu já pensei escrever uma mensagem destas, lá na porta da casa-de-banho do escritório onde trabalho. Mas mudava um bocadinho a construção e punha uma coisa assim: "Os meninos têm pénis, as meninas têm clitóris. Que não te enganem. Se nasces mulher, és mulher. Se és homem - hélas! - continuarás a sê-lo."  
Agora, por favor, não me interpretem mal. As minhas intenções estão longe de ser transfóbicas ou qualquer outra coisa de parecido. A minha preocupação é só alertar as pessoas, para as falsas expectativas que tantas e tantas vezes lhes estão a ser criadas, quando se submetem a operações e tratamentos estéticos invasivos, tudo para se sentirem melhor consigo mesmas. Aliás, em minha defesa, já escrevi outras coisas parecidas na porta do WC lá do escritório e não têm nada a ver com transexualidade. A primeira, uma pequena homenagem ao Michael Jackson, dizia assim: "Se o teu problema é no quinto andar, não faças obras no quarto andar!" 
Entenderam a metáfora? Quando as coisas não andam bem no “quinto andar”, não adianta muito fazer as obras no “quarto andar”?! E já agora, nem no terceiro e muito menos no segundo. Tenham juízo! Olhem se nunca mais funciona?!

Há uns quinze anos atrás fui operada a um joelho e não é que tenha ficado pior do que estava, mas o que tinha sido mesmo fixe, era nunca ter sido preciso ir à faca, porque melhor do que era, não conheço ninguém que alguma vez tenha ficado.
A não ser há uns tempos, num concurso da Miss Venezuela que vi e que parecia mais um estaleiro do que um concurso de beleza propriamente dito. Tirava-se um bocadinho ali. Enxertava-se um bocadinho acolá. E no final ficava uma espécie de Frankenstein, mas em bom, tenho de reconhecer. Só há um problema, onde fica a verdade desportiva da beleza no meio disto? Será que as cirurgias estéticas, neste tipo de concursos, não deviam ser consideradas doping e proibidas? Não sei mesmo…

Mas voltando ao autocarro de Madrid, o que me interessa naquela mensagem, não é o homem e a mulher. Aquela mensagem podia ser tanto acerca de transexualidade, como acerca do peso, ou da beleza, ou da falta de cabelo de uma pessoa. Se o teu pai é careca, não te enganes, tu vais ser careca. Ou, se nasces baixo, não te deixes enganar, nunca serás alto. Alguém ficava ofendido, se fossem estas as frases a circular pelas ruas de Madrid? Afinal, a parte mais importante daquele alerta é o: “Não te deixes enganar!” E a carapuça serve a toda a gente, não é só aos transexuais. Onde fica a fronteira, entre as pessoas se aceitarem a si e ao seu corpo como ele é e o declarar-lhe guerra, como o fazem os transexuais, ou alguns gordos, ou as pessoas que se acham muito feias e/ou muito velhas? Até que ponto se pode nascer num corpo errado, se é o corpo com que se nasce? E até que ponto não são falsas as expectativas de quem acha que o pode mudar?
Bem sei que, quem mora no prédio é que sabe se ele precisa de obras e onde, mas, às vezes, parece que as pessoas preferem ser o patinho feio, a ser o cisne mais bonito do lago…

No meu caso, se me dessem a chance de mudar, em vez de mudar de género, escolhia uma coisa mais radical e trocava de espécie. Deixava de ser um Homo Sapiens para trocar de cérebro com um Columba Livia, que para quem não sabe, é um pombo. No meu caso, uma pomba. Esse aspecto não mudava. Era o meu sonho! Passar os dias a sobrevoar a cidade e as vossas cabeças. Mentiria se não dissesse que pretendo cagar nalgumas delas… mas não é só isso. Devoto grandes expectativas na minha pessoa com cérebro de pombo. Nos dias que correm é dos melhores cérebros que se pode ter. It’s a win-win situation! Pena os avanços da medicina não acompanharem a velocidade dos meus sonhos.