sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

E Ver O Telejornal?

Há uns meses atrás, o Público trazia uma entrevista do escritor espanhol, Arturo Peréz-Reverte, a propósito do último livro, "Homens Bons". Do livro ainda não posso falar, que mal passei o começo - são muitas solicitações! - mas a entrevista, depois de ler outra vez, aqui pela Internet, recomendo vivamente a todos. Há sobretudo uma parte, que é tão genial, que não consigo deixar de a citar aqui. Cá vai:
"Às vezes pego num livro, e penso: este tipo, para que escreve ele? A quem importa saber que ele se levantou de manhã, que tem uma vida triste, que a mulher o deixou, que o seu filho é drogado, que se sente asfixiado pela vida… Para isso não vale a pena ler. Basta olhar em volta. O que eu quero é que me contem histórias interessantes, que me façam reflectir, pensar, sonhar, que mudem a minha vida."
Fico com vontade de beijar este homem na boca, de cada vez que leio isto. E digo mais, se o vosso trabalho é escrever livros, fazer filmes, tocar música, pintar quadros... escrevam isto num post-it e colem na porta do frigorífico, ou do mini-bar, se for mais esse o caso. Não vão encontrar conselhos muito melhores que este por aí.

Nunca percebi esta mania de pôr a vida real no cinema e a ficção no telejornal, mas entre uma e outra, acreditem que prefiro a segunda, apesar dos problemas que tem dado.  E foi muito por causa disto, que há cerca de dez anos, tomei a decisão de não ver mais cinema português. Confesso, o cinema português é um dos meus ódios de estimação.
A gota de água, se não me falha a memória, foi o "Odete" do João Pedro Rodrigues, que fui ver com a Gorda. Uma história pirosa, quando não confusa e muito mal representada. Quando saímos da sala de cinema, depois daquela valente seca, estava tão furiosa, que disse à Gorda: "Para ver cinema português, não contas mais comigo. Acaba hoje, acaba aqui!" E assim foi.
Já passei por muito com o cinema português. Pela mesma altura fui ver um filme do Pedro Costa, também ao cinema, já nem me lembro qual, que são todos iguais, e saí da sala a pensar, que tinha pago 5 euros, para ver uma grande reportagem do telejornal das oito. Aliás, pior, que as pessoas entrevistadas no telejornal das oito não estão preocupadas em fingir que são actores.

Por acaso, no Verão, fui ver "As 1001 Noites", no auditório ao ar livre da Gulbenkian. Sou sincera, só fui ver, para poder falar mal... Mas não é nada mau, apesar de serem mais de seis horas e haver cenas em que não se passa absolutamente nada, está ali um bom trabalho. O que mais gostei foi não se perceber muito bem, se aquelas pessoas do campo que entram no filme são muito bons actores a fazer de campónios, ou se são muito bons campónios a fazer de actores. É uma grande comidela de cabeça e dá uma magia ao filme, que combina muito bem com aquela aura de 1001 noites.

Lembrei-me disto tudo por causa da estreia do filme: "I, Daniel Blake". Não há uma alma que o tenha visto, que não tente convencer o próximo a ir vê-lo também. Poupem-me! As pessoas não vão ao cinema para se ver ao espelho. Digo mais, usar os dramas reais das pessoas, como entretenimento de série B, além de ser deprimente, não tem nada de original. Já temos o Facebook e a Casa dos Segredos para isso.


A última vez que fui ao cinema, foi para ver o "Animais Nocturnos" do Tom Ford. Não vou dizer se é muito bom ou muito mau, só vos vou dizer, que ao fim de meia hora de filme, estava de tal forma incomodada, que até pensei que o coração me fosse saltar pela boca fora e sair do cinema, deixando-me lá sozinha. A senhora de idade sentada ao meu lado, às vezes suspirava tão alto, que cheguei a temer que lhe desse algum fanico e eu fosse chegar ao intervalo com um cadáver ao meu lado. Felizmente, a tensão vai diminuindo ao longo do filme e eu e a velhota conseguimos sobreviver até ao fim. 
Agora perguntem-me, se eu vou estar na primeira fila, quando estrear o próximo filme do Tom Ford? Não, não vou, vou estar na do meio, que é de onde se vê melhor. Mas da próxima tomo um ansiolítico antes e se calhar despeço-me da família, just in case...
    

Worst Nightmare Ever

Nunca mais consegui dormir direito, depois desta história do Chapecoense. Já viram o que é? Um dia de manhã acordar, para descobrir, por exemplo, que os jogadores do meu Benfica morreram quase todos, num desastre de avião. E fazes o quê a seguir, com o resto da tua vida?? Olhem se fosse com o vosso Sporting? Com isso não sonho eu... e os adeptos eram bem capazes de ficar aliviados...
E depois, logo a seguir, aquela derrota na Madeira. Vi pelo menos dois títulos de jornais, que diziam mais ou menos isto: "O desastre do Benfica na Madeira". Sem aspas!
Em primeiro lugar, tenho muita dificuldade em aceitar, que um resultado de 2-1 seja considerado um desastre, mesmo que estejam a falar do Glorioso. E em segundo lugar, desastre?! Nem uma semana depois do "acidente" com o avião que levava a equipa do Chapecoense - agora sim, com aspas, pois já ninguém tem cara de chamar àquilo um acidente - o que é isto? Fiz queixa ao provedor dos dois jornais. Ai fiz mesmo!! E espero que levem bem nas orelhas por causa disso, idiotas! Há limites para o mau gosto. Os meus são estes.

Bem sei, não morreram só pessoas do futebol neste desastre, mas também não é esse o meu ponto. O que me parte o coração nesta história são as pessoas de Chapecó, que além de terem perdido familiares e amigos, perderam a sua equipa de futebol.
Já não me lembro qual deles, mas um dos manos Gallagher costumava dizer, que as pessoas que gostam de bola têm sempre um motivo para viver. Devia ser o Noel, que é o mais inteligente. Até com os adeptos do Sporting isto acontece. A tua vida pode estar uma merda, mas depois pensas na tua equipa, que ela pode ganhar o próximo jogo e é uma alegria que ninguém te tira, ninguém te estraga. E mesmo que não ganhe, há sempre a esperança do próximo, ou, como dizem os energúmenos: "Para o ano é que é!"



quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

São os Comandos, Estúpida!

Ora, é mesmo para não ouvir este tipo de insultos, que aviso já: todo o meu conhecimento sobre a vida militar, vem dos filmes de acção dos anos 80. Vi todos! Sou, praticamente, a maior perita nacional no assunto... 
A minha pergunta é só uma e modéstia à parte, é uma grande pergunta: é preciso matar uma pessoa - ou duas - para se chegar à conclusão, que ela não serve para os comandos? A ver pelo historial dos comandos no nosso país, parece que sim...
Nem ponho em causa a violência que é necessária ou deixa de ser necessária, na preparação dos soldados para a guerra. Não deve ser um passeio no parque, certamente que não, e quanto mais semelhante ao cenário real, que futuramente vão encontrar, melhor para eles e para nós. Mas, ainda assim, a única forma de esta história triste ser aceitável, era se os senhores instrutores do curso dos comandos, fossem pagos, para dar formação às tropas do inimigo. Aí sim, matar dois e mandar mais nove para o hospital, seria um grande feito militar. Como não é o caso, convém dizer, que matar à sede dois jovens, durante a formação dos comandos, não se sabendo ainda se é um crime, não será com toda a certeza, um bom trabalho. Além do mais, o serviço militar já não é obrigatório e arriscam-se a não ter muito mais gente disposta a servir o país, se começarem a perceber que têm de aturar este tipo de bestialidades no caminho.

A propósito, sou uma grande fã do Mário Nunes. Não estou a brincar, sou mesmo. Na minha opinião, é o grande herói português do século XXI. E o Guterres também, um bocadinho... mas é diferente, como diz o John Oliver, a diplomacia é a guerra para os "maricas". Não se compara...
E se já admirava o Mário Nunes, o grande herói português do século XXI, fiquei a admirá-lo ainda mais, depois desta polémica dos comandos. Estou em crer que, quem tem um verdadeiro espírito militar, não está para aturar estes jogos parvos de poder e ego, que parecem dominar as nossa forças armadas. Não admira que tenha desertado... E ainda bem para nós, porque graças ao Mário Nunes, podemos dizer, que ajudamos a combater os gajos do EI/DAESH/QUEGRANDEMERDA! Temos mais alguém lá depois disso?        

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

A Contar Carneiros

Na vida, sempre pensei, que era melhor só do que mal acompanhada. Não é que tenha mudado a minha opinião, mas em temas mais políticos, por muito mal acompanhado que se esteja, sempre deve ser melhor do que estar sozinho. Andei muito mal acompanhada neste último ano. Posso falar… 
A primeira vez que eu senti isto, foi em Junho, com o Brexit. Votar para sair da União Europeia, não é só uma panca de racistas e broncos da extrema-direita. Tal como a Irlanda e a Grécia – quem sabe a Itália?! – já o demonstraram antes, os povos da Europa querem menos União Europeia nas suas vidas e este sentimento existia, muito antes da questão dos refugiados. A vitória do Trump na América puxa para se enfiar tudo no mesmo saco, mas o Brexit e a vitória do Trump, não são a mesma coisa, nem aqui, nem em Marte. Aliás, a única coisa que estes dois assuntos têm em comum é o evidente défice democrático que afecta, tanto a União Europeia, como o “monstro cor-de-laranja”. E, dúvidas houvesse, basta pensar, que com o Brexit, a libra caiu e os mercados estremeceram, já com a vitória do Trump, o dólar subiu e os mercados, sem grande histeria, não desgostaram da novidade. Será que é a mesma coisa?! Um marciano que visitasse o planeta Terra por estes dias e fizesse uma pequena tournée pelos jornais, ficava a pensar que sim.      
Digo que me senti muito mal acompanhada no Brexit, porque as pessoas de bem têm tanto medo de racistas e parvalhões da extrema-direita, que preferem sacrificar valores tão nobres como a liberdade e a soberania, só para não ficarem ao lado dessa gente. Não quis saber. Aplaudi o Brexit à mesma, na companhia dos racistas e dos cretinos da extrema-direita e alguma gente de bem. Vi boas almas a defender o Brexit… 
O pior veio a seguir, com a proibição do burkini, nas praias francesas. Meu Deus! Não vi uma única pessoa decente do “meu lado”. Só xenófobos e idiotas da extrema-direita. Para conseguir ouvir alguém que partilhasse a minha opinião, era a oferta que havia no “mercado”. 
Lamento, mas nesta parte, vou ter de ir buscar o argumento nazi... As suásticas não são aceitáveis. Nós não toleramos pessoas na praia de braçadeiras com suásticas, por exemplo. Aceitamos suásticas no Carnaval ou no Halloween, mas fora estas duas ocasiões, as pessoas não toleram os símbolos do nazismo por aí espalhados, a conviver serenamente com o resto da civilização. O burkini  é a mesma coisa. É difícil entender isto? Deve ser, porque não vi uma única pessoa de bem do "meu lado", só grunhos e estupores. Fiquei preocupada comigo. Achei que tinha um problema e até procurei medicação contra a islamofobia, mas não há...


Melhorei bastante com esta historia do Trump. Sim, a vitória dele é uma tragédia, mas pelo menos aqui: “everything in its right place”, como diz o outro. Trogloditas de um lado, gente de bem do outro. 
Se os eleitores do Trump não votaram nas suas ideias racistas e xenófobas, votaram em quê? Na prisão da Hillary?! Secar o pântano?! Foi nisso que os americanos votaram? Um gajo que passou a vida toda a fugir aos impostos e a lixar a vida do próximo?! Oh pá! Isto vai ter muita piada…

domingo, 20 de novembro de 2016

Em Defesa do Papel (Mas Não Muito)

"Até 2020, a maioria dos jornais deixará de imprimir" By Pedro J. Ramirez


Cada vez tenho menos dúvidas sobre o futuro dos jornais em papel, ou melhor, sobre o seu não futuro. E sabem de quem é a culpa? É dos jornais em papel. Como aquele policial cliché, em que o assassino é a primeira vítima.
Bem podem atribuir as culpas à Internet, dizendo com ar sabichão: "Ninguém vai pagar uma informação em papel, se podemos obter essa mesma informação, gratuitamente, na rede." É bem verdade... mas só é verdade, porque, de facto, é a mesma informação, não é?

Faz-me lembrar o problema da Uber ao contrário. Para ser sincera, nem sou muito sensível à polémica entre os táxis e a Uber, mas, pelo que eu percebi, a Uber presta um serviço mais barato e com mais mordomias. O único senão é que no fundo, no fundo, estamos a chamar um táxi pela Internet. Para mim, que sou um dinossauro no que toca a confiar nas novas tecnologias, é um senão muito grande.
Ora, o que os jornais em papel fizeram, para se adaptarem aos novos tempos, foi imitar a informação da Internet.  Em vez de tentarem prestar um serviço diferente e com mais qualidade - e olhem que não era assim tão difícil - quiseram prestar o mesmo serviço, em que a única preocupação são os likes e as reacções.

Não admira, há mais de dez anos que ouço esta conversa, que os nossos jornais deviam ser mais como os americanos e mostrar logo nos editoriais de que lado da barricada estavam. Para os leitores saberem a propaganda que estavam a engolir. Como se os editoriais fossem bulas de medicamentos. Aos fãs do jornalismo americano, parece-me oportuno lembrar, o bom resultado que deu. 

Sem querer avançar explicações simples, para "doenças" complicadas, os jornalistas de hoje em dia deixaram de acreditar em factos e em isenção, nem nunca ouviram falar de uma coisa chamada verdade. Tudo depende da perspectiva. Nunca lhes ensinaram, que um facto só é um facto, se for verdadeiro, se for falso, já não é. Não adianta papagueá-lo 1000 vezes - embora até eu comece a ter dúvidas sobre isto.
Não sei se me estou a fazer entender... Vou tentar com o futebol, tenho mais facilidade em explicar problemas complicados, com metáforas futebolísticas. 
O jornalismo em papel achou, que o jogo era mais claro e sério, se em vez de existir um árbitro a apitar o jogo, existissem dois árbitros, cada um a jogar pela sua equipa. É isto o quarto poder hoje em dia, ou seja, não é um poder. Foram logo os primeiros a vergar ao populismo.
Ninguém paga para ler propaganda e os jornais em papel são repositórios de propaganda. Da Internet uma pessoa já espera isso, põe o filtro e até se ri um bocado, mas o jornalismo em papel costumava ser outra coisa. Não esta informação mastigada, cheia de maquilhagem, só com os factos que interessam, para tirar a conclusão que o editor manda. Quem arranjar os melhores factos, para a conclusão que já tirou, ganha o jogo.
E assim se cria uma sociedade de broncos, que não sabe pensar. Não admira que eles comecem a chegar ao poder.

Por outro lado, continua a ser o melhor material no mercado para limpar vidros.

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Quero aqui deixar hoje, no meu blogue, um grande bem haja ao Dr. Passos Coelho. É um visionário, este senhor. Não foi em Setembro, mas com o resultado das eleições americanas, já ninguém tem dúvidas, que o Diabo chegou. 
É assim uma espécie de irmã Lúcia mouca, o nosso Passos Coelho. Em Novembro, Pedro, foi o que ela disse, o diabo chega em Novembro. Sempre achei que ele tinha potencial para ser beato... 

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Wanna To Cry

O Trump ganhou e também eu tenho vontade de escrever um texto desencantado e pedinte, sobre a necessidade de ouvir e prestar mais atenção, aos apelos da extrema direita, aqui na Europa e na América. Depois ganho a noção do ridículo e passa-me. Mas façam assim: ouçam bem os deploráveis da extrema direita na América e tentem compreendê-los. E de seguida, façam as malas para a Síria e ouçam bem e tentem compreender ainda melhor, por que motivo jovens europeus dos subúrbios de Paris, Londres e Bruxelas... fogem dos seus países de origem, para se juntar à jihad islâmica, boa? 
Não me façam rir, quando tenho vontade de chorar. Se não se importam, por mim, escolho continuar a chamá-los de broncos e a fazer pouco deles, desculpem lá...


O meu avô, por acaso, atirava um bocado ao fascismo e eu bem podia ter tentado compreendê-lo, mas não me dei ao trabalho. Era velho e na minha opinião, os velhos podem ser tudo o que eles quiserem, inclusive xenófobos e sexistas. Não vão durar cá muito tempo e até deixo passar... Mas se não forem velhos, não aceito estes bullies da treta armados em vítimas.
No 60 minutos desta semana ouvi um dos eleitores do Trump a dizer, com um tom muito oprimido, que não podia dizer aquilo que pensava, porque as pessoas o ostracizavam. Literalmente, nem estou a tirar proveito da tradução. Sem querer compreender estas pessoas - Deus me livre! - acho que começo a entender como elas funcionam. Podem dizer todas as alarvidades que lhes passem pela cabeça e não esperam de nós outra coisa, que não sejam sorrisos e palmas. O mundo é um imenso speakers corner, onde eles são os speakers e nós os turistas de passagem, que é como quem diz, o corner.
Ou são bullies, ou são vítimas, decidam-se! As duas ao mesmo tempo não dá. Nós cá no burgo temos um ditado, que diz assim: quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. Como é que se diz isto em americano?  

domingo, 13 de novembro de 2016

O Triunfo da Cretinagem

Ora bem, nem sei por onde começar… Acho que pelas boas notícias, que é o que se faz, quando as notícias são muito más.
A primeira boa notícia é que o politicamente correcto faleceu. De há uns anos para cá, que se via muita gente preocupada com o politicamente correcto, como se o politicamente correcto fosse a nova bomba atómica e todos fossemos morrer por causa disso. Pela minha parte, sempre achei que era mais importante saber distinguir o certo, do errado, mas, claramente, eu é que estava enganada. O “ser anti politicamente correcto” tornou-se um valor fundamental e foi só por isto, mais nada, que Donald Trump foi eleito presidente da América. Entre o sistema e um cretino do pior, os americanos preferiram um cretino do pior. Porquê? Porque volta e meia os cretinos do pior ficam na moda e temos de aprender a lidar com isso. Aposto, que na Alemanha dos anos 30, as pessoas que votaram no Adolfo, também pensavam que ele era apenas um desassombrado, que tinha a coragem de dizer as “verdades”, que mais ninguém tinha.
Como explicar esta loucura, idiotice, suicídio colectivo ou lá o que quiserem chamar, ao resultado das eleições americanas? Muitos repetem o mantra do costume, que o populismo é fruto de um estado assistencialista, que se mete demasiado na vida das pessoas… Se estivéssemos a falar de Portugal, até era capaz de comer essa patranha, mas estamos a falar dos Estados Unidos da América. Um país que viu cidades inteiras com casas abandonadas e a classe média a viver em parques de campismo, por não as poder pagar. Um país em que mais de metade da população não tem acesso a cuidados de saúde decentes. Acham mesmo, que o problema dos americanos é o tamanho do Estado?  
Começo a ficar um bocado farta desta conversa, que o Estado garantir serviços públicos de saúde, educação ou previdência social é meter-se na vida das pessoas. Cinismos à parte, se um destes liberais de quinta – e olhem que eu conheço muitos – enfartar, na minha frente, eu chamo ou não chamo a ambulância? Depois a pessoa fica a pensar, que eu me estou a meter na vida dela… Juro, às vezes, nem consigo dormir a pensar nisto.


A segunda boa notícia é que a guerra fria, se ainda existia, também acabou e quem ganhou foi a Rússia. Sendo que, a boa notícia circunscreve-se só à primeira parte da frase, a não ser que o Putin esteja a ler isto – nunca fiando – e nesse caso, parabéns Vladimir! São três boas notícias para ti. Agora o teu urso pode andar por aí, a pôr a pata onde quiser, pois se já não havia muita gente que lhe fizesse frente, estou em crer, que com o Donald a liderar na América, vão passar a estender-lhe a passadeira vermelha.     

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O PAPEL DE UMA VIDA!

Quando eu era miúda tínhamos quatro cassetes no carro, para ouvir durante as viagens. Naquele tempo as viagens de carro duravam muito tempo. Uma viagem para o Algarve, por exemplo, era coisa para demorar um dia inteiro. Aliás, foi durante uma dessas intermináveis viagens para o Algarve, que a minha cassete laranja e preta dos ABBA desapareceu. Era a minha favorita. Depois havia uma dos Beatles, outra dos Beach Boys, das quais gostava igualmente, e o raio do Bob! Não era nada fã do Bob Dylan em criança. Achava aquilo tudo igual e a gaita não ajudava. Ninguém que queira ser levado a sério toca gaita, pensava eu. Gaitas e pandeiretas é logo um mau princípio. Apetecia-me agarrar na cassete e atirar com ela pela janela fora, que foi o que deve ter acontecido, com a minha cassete dos ABBA. Mas com o passar dos anos passei de achar que o Bob Dylan era muito mau, para achar que era muito bom, sem deixar que ainda assim é um bocado mau. Tipo os Depeche Mode no início dos nos 80, que são muito bons e muito maus tudo ao mesmo tempo.  
Não entendo é que possa ser polémico, o Bob Dylan ser o mais recente prémio nobel da literatura. Qual é o vosso problema?! É a música que estraga? Se for por causa da música, entendo. Poemas tão bonitos, histórias muito bem contadas e a estragar, aquela voz de cana rachada e uma gaita a acompanhar. Parece fazer pouco da literatura, não é? Mas não deixa de ser literatura por causa disso. Às vezes tenho dúvidas é que seja música, até porque já o vi ao vivo. E por isso também não entendo a polémica. Sabem quantos grammys ganhou o Bob Dylan? Ganhou 14 grammys. Inclusive em 1980, em 1998 e em 2007, Bob Dylan ganhou, nada mais, nada menos, do que o grammy da melhor performance vocal do rock. Como é que acham que o Leonard Cohen se terá sentido nessa altura? 
Já o nobel da literatura não devia chocar ninguém. Os discos podiam ter uma etiqueta a dizer isso mesmo: “Isto não é bem música, é mais literatura”, e as pessoas já sabiam ao que iam, antes de ouvirem Bob Dylan. O Just Like Tom Thumb’s Blues é quase um argumento de um filme, enfiado numa canção. Mete uma cidade perigosa, degredo, putas, polícias que não querem saber, um amor de merda e um final com regresso a casa. Olha não é escritor…

Por tudo isto e para algo completamente diferente, o óscar de melhor actor, no próximo ano, devia ser entregue ao Alec Baldwin, pelas participações nos sketches do SNL, a imitar o Donald Trump. Da primeira vez que vi cheguei a pensar que tivessem convencido o próprio Donald Trump, a fazer dele mesmo, o que também teria sido hilariante, aposto. É muito bom! Estou tão viciada naquilo, que até já sei as falas de cor. 

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Chutar para canto?!

Ora bem, a ver se a gente se entende… Quando o tosco do Presidente, depois de um passe magistral do Costa, chuta a bola para a bancada, o que nós temos a seguir é um pontapé de baliza!

Para haver pontapé de canto, seria necessário que o tosco do Presidente acertasse num dos pinos da oposição, antes de a bola sair pela linha de fundo... Ok?    

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

DEIXEM O PALERMA FALAR!

Tenho pensado muito em palermas nos últimos tempos. Qual a melhor forma de lidar com um palerma? Devemos ignorar um palerma, mesmo que ele não nos deixe em paz? É possível livrarmo-nos de um palerma, sem termos de o matar? São dúvidas para as quais tenho procurado resposta e até agora cheguei a estas parcas conclusões: não sei; talvez; sim!

Tudo começou com um cartoon no DN. Nem era preciso o desenho para ter piada. Ou se calhar era, mas vou tentar na mesma. Mostrava três talibans e o mais velho dizia aos dois mais novos: “Se querem que um livro se torne eterno, atirem-no a uma fogueira”. O livro era o Corão, a frase não sei se era mesmo esta, mas a ideia era.
Acontece o mesmo com as pessoas. Se quiserem fazer de um palerma, um herói, ameacem-no de morte.
Às vezes nem é preciso ir tão longe. Experimentem só proibir um palerma de falar. É um bocado como aquele mito das formigas. Se mandas calar um palerma, aparecem logo mil palermas a defendê-lo. São muito corporativos os palermas. Por isso é sempre bom deixar o palerma falar até ao fim. E, depois do palerma acabar, bocejar, espreguiçar bem os braços e ir embora. 
Nunca – mas mesmo NUNCA! – ameaçar a integridade física do palerma. É o pior que se pode fazer. A partir daí obrigamos todas as pessoas de bem, a tomar uma posição, para defender um palerma. As pessoas de bem não merecem que lhes façam isso. Com toda a certeza devem ter coisas mais importantes a fazer na vida do que defender palermas.

Tenho também uma outra técnica para lidar com palermas, mas ainda está em fase experimental. Funciona assim: o palerma vem para falar comigo e eu faço de conta que sou autista. Olho para ele fixamente de olhar perdido no vazio – às vezes até me babo um bocadinho, para dar mais credibilidade à cena – e não digo nada. Tenho tido bons resultados, mas pode ser um processo moroso.
 
E toda esta preocupação com palermas por quê? Prometi a mim mesma, numa resolução de um ano novo qualquer, não defender palermas. Criminosos tudo bem. Palermas? NUNCA! Mas tem sido muito difícil manter a minha resolução. Todos os dias é um novo palerma que aparece a precisar de defesa. Bem sei, não são tempos fáceis para os palermas e alguém tem de os defender, mas faço aqui um apelo: Por favor, não mandem palermas para o Tribunal, só por serem palermas!
O pior pesadelo de um advogado é ter de defender um palerma em juízo. A única coisa pior que defender um palerma, deve ser apanhar um juiz palerma. E agora que penso nisso, até acho que deve ser melhor apanhar um juiz palerma. Pelo menos do teu lado está tudo controlado.

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

I LOATHE EU

Quando uma pessoa pensa que já viu palermas de todos os tipos, com cartazes na rua, a vida vem e surpreende-nos todos os dias com novos exemplos de palermas e os cartazes que eles trazem para a rua. Dos palermas todos a segurar cartazes na rua, os "I love EU" são os meus favoritos. Têm aquele cheirinho a América Latina, onde até já começa a ser raro ver propaganda destas nas ruas. É mais coisa para a Coreia Norte, o amor aos líderes e às instituições. E em Angola também se usa muito, diz que há muito amor ao "Zédu" por aqueles lados, seja lá o que isso for. Na Europa é uma estreia. É uma ideia que eu deixo àquela malta da ONU, de um novo critério para apreciar o desenvolvimento das nações: o amor que um povo nutre pelos seus líderes e pelas instituições que os governam.
Tenho de confessar que eu congelo um bocadinho por dentro, sempre que vejo um palerma com um cartaz a dizer: "I love EU". Uma pessoa anda há anos a tentar convencer-se que isto não está a caminhar para a união soviética e depois surgem estas marchas a dizer: "We love EU" e todos os meus argumentos caem por terra... Tantos ditadores ao longo da história e foi preciso um gajo raptar meia dúzia de pessoas, em Estocolmo, para termos um nome bonito a descrever o conceito de xonés.   

Lembra-me uma música que reza assim: "Never tell the one you love that you do, save it for the deathbed". Não sou ninguém para vos dar conselhos sobre a vossa vida intima, como o Matt, mas é um bom princípio para ser aplicado à política. Haverá certamente bons políticos no mundo, a fazer um bom trabalho e sabem qual a atitude de um país do primeiro mundo, para com estas pessoas? Não é nenhuma. Afinal não fazem mais que a sua obrigação. É uma das chatices do serviço público. O nome já diz tudo, a pessoa faz bem e não faz mais do que a sua obrigação.
Imaginem que um dono de uma PME, com cerca de 20 empregados, aparecia um dia no armazém com um cartaz a dizer: "O Adalberto é o melhor empregado do mundo e eu amo-o por isso". Nunca aconteceu, nem vai acontecer, pois além de pregar um susto de morte ao Adalberto, o mais certo é que o Adalberto não fizesse mais nada de jeito no trabalho a partir daí. Acontece o mesmo com a política e os políticos. Não sejam groupies! Estragam a vossa vida e a minha também. Sobretudo os fãs do Professor Marcelo, até fico agoniada com tanto afecto. Credo! A sorte é que ele não atira ao fascismo ou estava tramada com vocês. 
O máximo de afecto que uma pessoa deve ter por um político é dar-lhe uma galheta no cachaço e dizer: "Presta atenção à tua vida, pá!" Mais do que isto acho que é estragar.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Uma História Simples

Já lá dizia o poeta: "Art is no excuse for boring people"!

Se calhar quem dizia isto não era um poeta, mas lembro-me que falava inglês. E quase posso apostar, devia ser norte-americano. Eles sabem melhor do que ninguém, que a arte, seja a pintura, a literatura, a música ou o cinema, não precisa de dar grandes respostas sobre o sentido da vida, nem de uma história surpreendente, a única coisa que se pede a um bom artista, é para não entediar as pessoas. Tudo se desculpa, cenas chocantes, temas tabus, pura parvoíce, o que quiserem. O que não se aceita é pregar uma grande seca às pessoas.

O cinema português precisa, urgentemente, de alguém que entenda isto. Perdi a conta das vezes que saí frustrada de uma sala de cinema, por causa de um português. Durante muitos anos até me escondia debaixo da cama, de cada vez que ouvia as palavras cinema e português na mesma frase. Ou o filme tem uma boa história e está mal representado ou os actores são muito bons e a história é uma pasmaceira.
Já nem falo daqueles casos, em que não entendes nada da história que o filme tenta contar. Isso não é necessariamente mau. Nunca percebi nenhum dos filmes do David Lynch, mas também nunca olhei para o relógio a meio de um deles a pensar: “Quando é que esta merda acaba?!”
Podes não entender nada do filme, mas ficas ali agarrado até ao fim, na esperança de entender. E quando o filme acaba sentes pena, porque achaste que desta vez é que era, ias mesmo entender um filme do David Lynch, mas não.

Uma vez fui ao cinema com a gorda e um amigo que adora o David Lynch, para ver o Inland Empire. Estávamos os três no cinema e quando aparece aquela cena dos homens vestidos de coelho, a gorda, com um ar assustado, pergunta-me: “Estás a perceber isto?!” – E eu olhei para ela, com o meu ar mais snob e disse bem alto no meio do cinema: “A sério!!! Não tás a perceber?!” – E desatamos os dois a rir. O meu amigo achou que estávamos a gozar com o filme e não nos falou durante duas semanas. A malta cinéfila leva o David Lynch demasiado a sério.    
Eu também levo. É de louvar uma pessoa que constrói uma carreira, a fazer filmes que ninguém entende. Aliás, uma série de televisão inteira, que ninguém entendeu e ninguém esquece. Saudade! Não iam fazer um remake?

Há uns 10 anos atrás, lembro-me de estar a vegetar pelo sofá, quando li no jornal: “História Simples de David Lynch, 15:30, Gulbenkian”. Mal a comparado, esta informação no meu cérebro teve o mesmo efeito que a frase: “Deus na praça do comércio! “, teria num ateu.
Gosto das histórias do David Lynch e se há coisa que sonho desde sempre, era uma história simples, que eu conseguisse entender. Saltei mesmo do sofá e fui em busca da história simples. No caminho ainda pensei pra comigo, se não seria publicidade enganosa? Algum intelectual da Gulbenkian… sabe-se lá o que eles consideram uma história simples… Mas era mesmo. Até me vieram as lágrimas aos olhos.

Tudo isto do David Lynch, para dizer o quê? Para dizer que até ele, uma vez na vida, desceu à terra para fazer uma história com princípio, meio e um final bonito. Será assim tão difícil?! 

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Ninguém Vai À Praia Assim!

Nem acredito, que a Europa não se levantou toda, para aplaudir a França de pé, com esta decisão de proibirem o burkini. Já não há Charlies... Se eu fosse Presidente da Câmara e encontrasse alguém de burkini na praia, também proibia.
Pouco me interessa para esta discussão, se o burkini é exclusivamente usado por muçulmanas ou por hare krishnas. Nos dias que correm, parece que todas as discussões se resumem a isto. De um lado a brigada do politicamente correcto, que vê islamofobia em tudo. Do outro lado, o bando dos cretinos, que não perde uma oportunidade de insultar alguém.
Uma senhora, que faz da vida costurar burkinis, argumentava assim: "Não estamos a esconder bombas debaixo do burkini". O que é que uma pessoa responde a isto?! Eu espero bem que não...

Mas se há gente que acha ridículo ostracizar os burkinis, por estes não representarem um problema de segurança, eu acho ridículo colocar a questão desta forma. As miúdas de 13 e 14 anos casarem com homens de 60 anos, também não é um problema de segurança e nem por isso vamos permitir? Ou vamos?! Se um dia, uma tribo de aborígenes das ilhas Caimão vier refugiar-se em Portugal e lá for hábito levar as mulheres algemadas ou de trela para a praia, nós vamos permitir isso cá? Encolher os ombros e assobiar para o lado, por não ser um problema de segurança?!
Bem sei que tem havido um número assustador de atentados recentemente, mas isto não é só um problema de segurança.
Os nudistas têm praias só deles e eu acho bem, para não terem de levar com mirones e tarados. Ou melhor, até podem levar com mirones e tarados, mas eles têm de ir despidos para a praia. E eu tenho de aturar, estar de bikini na praia, com uma senhora disfarçada de Conde Drácula, na toalha ao lado?! Respondendo à senhora dos burkinis, ali em cima, por mim, até podem levar bombas para a praia, mas têm de ir de bikini, como as outras pessoas todas.

Nem a minha avó ia assim vestida à praia. O meu pai tem uma foto dela lá em casa, nos idos anos 60, a passear na praia da Póvoa de Varzim, de braço dado com o meu avô e o que ela tem vestido é uma saia, ligeiramente abaixo do joelho e uma blusa de manga curta. Acho que o meu avô está mais tapado do que ela. Deixem a minha avó fora disto!
Até os surfistas vão de calções para a praia nesta altura. Ou então, mal saem da água, descem o fato até à cintura, que eu bem vejo. Ta tudo palerma?! É que nem o rapaz das bolinhas de berlim, que está na praia para trabalhar e não para apanhar sol, anda tapado da cabeça aos pés.

Saudades dos tempos em que se discutia o topless e os bikinis com as partes de cima, a imitar mamas ao léu. Agora burkinis, com franqueza! Só se for para ir à praia em Novembro ou naquelas noites de Verão, em que se levanta a nortada. Em pleno mês de Agosto, uma torreira ao sol e as pessoas todas vestidas na praia é uma provocação! Sejam burkinis, leggings, fatos de surf ou fatos de treino, deviam ser todos banidos da praia, nos meses de Verão. E se algum dia virem uma pessoa de fato de mergulho na praia, estendida ao sol, chamem a polícia! Deve estar morto e veio dar à costa assim...

segunda-feira, 23 de maio de 2016

A ESCOLA DO MEU FILHO ESCOLHO EU (E PAGAS TU)!

No meu tempo, as escolas privadas existiam, para que os filhinhos burros dos papás ricos, que quisessem tirar um curso superior, não fossem obrigados a frequentar sociologia, na Universidade da Beira Interior. Muita coisa mudou desde então… E quando o principal argumento, para defender que o dinheiro público seja investido em escolas privadas, é o da competitividade e da consequente qualidade e eficiência do serviço público em causa, só podemos estar pior. Outra coisa que não acontecia no meu tempo era discutir-se o serviço público de ensino, com os mesmos critérios com que se fala de combustíveis e telecomunicações.

“ A escola do meu filho, eu é que escolho!” – e o que eu quero saber é: Quem é que vai pagar isso?! Estou a brincar, não é nada. Era só para me armar em boa.
De todos os argumentos em defesa da escola privada, este é o mais tonto. A escola pública não existe para impedir que os pais extremosos possam escolher livremente as escolas dos seus petizes. Pelo contrário. Existe para garantir, que um ensino de qualidade chega a todos, mesmo àqueles cujos progenitores não se pudessem estar mais a c#$%& para a qualidade da escola das suas criancinhas.
A ideia de um serviço público prestado pelo Estado, seja ele de saúde, de educação, de justiça ou segurança, não é impedir que as pessoas façam livremente as suas escolhas. É garantir um serviço de qualidade, a quem não tem poder de escolha.    
E só é possível garantir um serviço público de qualidade a todos os cidadãos, se os critérios de acesso não forem os mesmos da livre concorrência e dos mercados. Até porque, como é fácil de ver, uma má escola ou um mau hospital, não são a mesma coisa que um mau restaurante ou um mau cabeleireiro, por muito trágicos que esses serviços às vezes consigam ser.

Se os cidadãos podem escolher livremente a escola dos seus filhos, porque não hão-de escolher livremente o Tribunal ou a esquadra de polícia onde querem apresentar queixa? Por que há de um cidadão recorrer ao Tribunal da sua Comarca, se o da Comarca ao lado é mais rápido e o juiz até é amigo do meu primo? E ser obrigada a ir à esquadra da minha residência, quando podia perfeitamente contratar uma agência de detectives de qualidade e da minha confiança? E o Estado pagava, que eu garanto, até saía mais barato. Por que não?

Volta e meia surge esta discussão em Portugal: “o meu umbigo é mais liberal que o teu!”. Normalmente começa com alguém a dizer, que um Estado pequenino, onde se pagam poucos impostos, chega melhor a todo o lado. Não há ideias perfeitas, mas a do Estado liberal chega lá perto, unindo o melhor de dois mundos, os baixos impostos, com a omnipresença do Estado.
Como se me dissessem que um caniche, por ser pequenino e irritante, é melhor cão de guarda que a minha Iolanda, uma rottweiler sem regras. Faz sentido?

O que faz sentido é uma pessoa pagar aí uns 20 euros por ano e o Estado tratar dos censos e enviar uma revista com os balanços do país a cada cidadão. Mais nada! E depois cada um garante junto dos privados, o ensino, a saúde, a justiça, a segurança e as pensões que bem entender e que o seu bolso puder pagar. Um verdadeiro Estado liberal não chega a lado nenhum, nem paga aos privados, para chegar na vez dele. Um Estado liberal não se mete, nem na prestação dos serviços, nem na intermediação de negócios, para conseguir prestar esses serviços. Se isto for “ser liberal”, eu assino por baixo já!      
 
Todos os dias, quando saio à rua, entrego livremente – e com gosto! – o meu dinheiro aos privados. Quando vou ao supermercado, ou compro tabaco, ou pago o gás e a luz. Sem querer saber se têm muitos ou poucos lucros, nem o que fazem com eles. Por mim, podem pôr todo o dinheiro no Panamá ou acender ganzas com ele. Tanto se me dá!

Mas será pedir muito, que o dinheiro que eu entrego ao Estado – muito a contragosto! – para pagar os meus impostos, seja investido em serviços públicos e não novamente entregue aos privados, pra que sejam estes a prestar um serviço, que devia ter sido prestado pelo Estado em primeiro lugar?

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

OS LIMITES DO HUMOR

Aposto que já tá tudo aí de resposta pronta na língua. Olha-me esta! Não há limites ao humor.
Durante muitos anos, também pensei assim, que não existiam quaisquer limites ao humor. Todas as piadas eram bem vindas, até as mais cruéis.

Deixei de pensar assim, quando Bush júnior foi eleito para Presidente dos Estados Unidos da América. Se teve graça? Teve muita graça. Ri muito à custa das idiotices do homem.
Já muitos países tiveram presidentes piores, certamente que sim. Mas justiça seja feita à América, o presidente mais burro de todos os tempos é deles. E foi uma galhofa, se foi!
Mas à medida que os anos passam, a piada vai tendo cada vez menos graça. É uma coisa que acontece com frequência, quando se brinca com coisas sérias. São piadas que não resistem ao tempo e que com a sua passagem, tendem a ficar mais amargas. Aposto, que no ano 2500, quando lerem sobre isto nos livros de história, não só não vai ter piada, como nem vão perceber que era uma piada. Vão apenas concluir, que os americanos eram uma cambada de idiotas, naquela altura.  

Não fazia ideia que o lóbi do humor pudesse ter tanto poder por aqueles lados. Só isso explica o fenómeno Trump. É muito divertido ter um mentecapto no poder. Eles fartam-se de rir lá na Coreia do Norte e nós também. Mas paga-se caro e os juros estão sempre a vencer. 

Não brinquem com coisas sérias! Vale para a América e vale também para os 152 mil palhaços, que saíram de casa num domingo, para votar Tino de Rans. Não tinham ficado melhor em casa, a ver o Portugal é festa!?
Ponham os olhos no Manuel João Vieira. Aí está um homem que sabe bem os limites do humor. E se algum dia decidir avançar, só por causa disto, pode contar com o meu voto. Sempre achei de génio aquela ideia de alcatifar Portugal. E pôr naperons em cima dos semáforos. Fora de brincadeiras, é mesmo este o caminho a seguir.   

QUEM É QUE NÃO VAI PAGAR ISTO?

As perguntas são sempre mais importantes que as respostas. Mas de todas as perguntas que se podem fazer: “Quem é que vai pagar isto?”, sem ofensa, é das perguntas mais idiotas.
Daí aquela afirmação do secretário de estado dos assuntos fiscais, que não conseguia inventar impostos pagos por marcianos. A única forma de anular uma pergunta idiota, é com uma resposta igualmente idiota. Chama-se a isso, se não me engano, a primeira lei da dinâmica da estupidez.

Eu por acaso também tenho uma pergunta, que há várias semanas não me sai da cabeça, onde é que estavam estes forretas todos, quando faliu o BPN? E quando faliu o BES? E quando faliu o BPP? E quando faliu… espera lá, o que é que foi mesmo, que aconteceu ao BANIF?!
Não deixa de ser curioso, que estas mesmas almas “caridosas”, nunca apareçam com as suas pertinentes perguntas, quando são os bancos a falir.

Nem vou dizer se sou a favor ou contra as medidas do orçamento, que prevêem menos horas de trabalho, mais feriados, o aumento do salário mínimo, etc. O que me interessa, é que com estas medidas, eu sei bem quem vai pagar – o contribuinte, como sempre – mas sei, sobretudo, quem vai receber. Conheço pessoalmente alguns deles, sei o trabalho que fazem, os impostos que pagam e nalguns casos, até o que eles bebem ao jantar.
Já quando são os bancos a falir, é fácil saber quem vai pagar – ora lá está, o contribuinte, como sempre – mas quem é que vai receber? E quem é que já recebeu? A resposta a estas perguntas é um enorme vazio e não me parece que haja alguém interessado em preenchê-lo. Nem mesmo os forretas.
E, infelizmente, eu também não posso ajudar. Não conheço ninguém que tenha recebido com o colapso do BPN, do BPP, do BES ou daquela coisa estranha que aconteceu ao BANIF.

É muito sinistra esta pergunta. Na minha opinião, se é para perguntar, mais vale perguntar, quem não vai pagar isto. Não é que seja uma pergunta muito difícil de responder. Basta ler a lista dos arguidos, que fizeram acordo com as finanças, na operação furacão e têm uma pequena amostra, sobre quem, certamente, não irá pagar nada disto. 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

DRESS CODE

Tenho muitas dúvidas se devemos (ou podemos) acolher mais refugiados na Europa. 
Já quanto à forma de os receber, não tenho dúvidas. Basta exigir às pessoas que chegam, os mesmos deveres mínimos que já exigimos aos de cá. 
Por isso até acho bem esta nova lei da Dinamarca. Nada como gamar-lhes a carteira logo à entrada, para os refugiados saberem ao que vêm, quando vêm para a Europa.

Eu adoro direitos fundamentais! É direitos fundamentais e ganzas. Se calhar gosto mais de ganzas, mas logo a seguir vêm os direitos fundamentais. E andar de cara tapada na rua, não é um direito fundamental. Já o sairmos à rua e não darmos de caras com um tipo de meias de nylon enfiadas na cabeça, se não é um direito fundamental, devia ser.
Não há nenhum bom motivo para se tapar a cara e não há nenhum bom motivo para se proteger quem o faça. As únicas pessoas que têm um interesse legítimo em tapar a cara são assaltantes. Portanto, andar na rua de cara tapada, em qualquer estado de direito, que se queira continuar a chamar de tal, devia ser encarado como um acto preparatório de um crime.
A fronteira entre a tolerância e a discriminação fica nas caras tapadas.

Se um português entrar no Tribunal de chapéu, com as calças pelo joelho e a mascar pastilha elástica, o juiz não vai querer saber se ele é guna desde pequenino. Ou se o pai dele também era guna e que foi o avô quem fundou o gunismo em Portugal. És guna, tiras o chapéu, deitas a pastilha fora e sobes as calças como os outros, salvo seja. Se calhar não é a mesma coisa, ou será?!

Tenho uma certa fobia a caras tapadas. A única excepção que encontro a esta regra são as pessoas mesmo muito feias. E, claro, se fossem elas a requerer esse direito.
Na altura de a pessoa mesmo muito feia tirar o seu documento de identificação, ela requeria para andar de cara tapada, fundamentava:
“Ai! É que eu sou mesmo muito feio e as pessoas assustam-se de morte, quando se deparam comigo na rua.
P.D.
Pessoa mesmo muito feia” 
Pagava uma taxa e tudo bem. Pelo menos ficavam registadas, as pessoas que andam por aí de cara tapada. Mas por norma? Nem pensar!

Não gosto de lenços na cabeça, mas também não os acho ofensivos. E sou bastante tolerante com as camisas de dormir na rua. Ainda me entusiasmo e saio de pijama também. Mas caras tapadas na rua, com franqueza, não é aceitável. 
Sabe Deus as caras lavadas… custa alguma coisa pôr uma base e uma sombra antes de sair de casa?!

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

ATENÇÃO! ESTE TEXTO PODE CONTER VESTÍGIOS DE POLITICAMENTE CORRECTO.

Estamos todos chocados com os incidentes de Colónia, não estamos? Não, não estamos. Alguns estavam mesmo à espera desta oportunidade e não conseguem disfarçar a excitação de tão contentinhos que estão.
Afinal não é todos os dias que podemos vomitar os nossos ódios pessoais cá para fora, sem culpas de maior e até com alguns aplausos de admiração. 
“A culpa é das feministas!”; “A culpa é da esquerda!”; “A culpa é dos refugiados!”; “E de quem lhes abre as portas!”. Para esta gente os factos atrapalham. O que é importante é aproveitar o momento, para rosnar e mostrar os dentes.
Passam o ano inteiro a bater palmas às palermices do Dr. Arroja, a rir com as alarvidades do Sr. Trump, a fazer pouco da criminalização do piropo e a elevar o Manuel Palito a mascote nacional, mas em chegados a estas alturas, põem a cartilha do "respeito às mulheres" na lapela e dizem que não há condições para receber refugiados, por causa delas. Obrigadinha! A sério! Sempre é melhor que nada.

Deus livre e guarde uma mulher de dizer que é feminista. Neste país, ela é logo chutada para canto com epítetos de histérica, louca, nazi, etc. Mas se for um homem machista, toda a gente acha graça e dizem que é excêntrico. Nada contra. Mas se puderem aproveitar estes momentos, em que trazem o respeito pelas mulheres ao peito, para me explicar isto, eu ficar-vos-ia eternamente grata. Estou a pensar ingressar no feminismo, mas não sei como fazê-lo, para ser engraçada e excêntrica, em vez de histérica, louca e nazi.
    
Só há um único culpado nesta história de Colónia e é a polícia, tanto por não ter actuado, como por não ter divulgado os crimes. Se foi por falta de meios ou pura incompetência… estas são as questões que as pessoas verdadeiramente chocadas, gostavam de ver respondidas. O resto é pura raiva, contagiosa e não vai lá com vacinas.
Até uma criança com défice de atenção percebe, que a única forma de combater crimes, é meter os criminosos na cadeia. E sobretudo no que toca a crimes sexuais, a cor ou a religião das pilas costuma ser um bocado indiferente. Basta lembrar as violações colectivas na Índia. Também eram pilas hindus e monhés, e não me parece que alguém tenha tirado alguma conclusão à custa disso.
E para terminar, (tenho mesmo de dizer isto), aquilo que distingue os países do Ocidente, da Índia, do Paquistão, da Síria e da Idade Média em geral, é o facto de a polícia e os tribunais funcionarem, não é a forma de pensar das pilas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

GRANDES IDEIAS PARA A PRESIDÊNCIA

As presidenciais estão aí à porta. Sempre sonhei ser presidente. Ou presidenta. Tanto dava. Infelizmente, entre as férias de verão e o natal, mais aquele meu lema que manda: "se não te apetece fazer hoje, deixa para amanhã", (era o hino da minha campanha), perdi completamente o timing para apresentar a minha própria candidatura à presidência da república.
É uma pena porque eu tinha ideias muito válidas para um mandato presidencial. Cavaco foi uma inspiração.

A minha primeira medida no comando, passava logo por propor uma abolição da terceira pessoa, no trato social. Nada de formal. Seria apenas uma mensagem positiva, que eu ia deixar no final dos meus discursos: "Sejam menos betos portugueses!"
Há demasiados betos para um país tão pobre. Pessoas que se ofendem quando o outro os trata por tu. E depois ainda olham para mim com aquela cara de:
- Já viste a lata?!
- Que horror! - respondo eu - A tratarem-te por tu, como se tu fosses uma pessoa?!
A maioria não só não percebe, como até acena a concordar.

Só na justiça, (e talvez na política também), isto se justifica. Tendem muitas vezes a descambar na linguagem e é melhor levantar ali uma barreira de ilustres colegas e distintos doutores, que torna mais fácil dizerem as piores coisas uns aos outros. Exemplo?
"Ilustre colega Dr. Nuno Pinha,
Dou por recebido o email do digníssimo colega, que muito agradeço.
No entanto, tenho de lhe transmitir, que a proposta do seu cliente parece saída de um enorme charco de caca…" e assim por diante, sempre a descer o nível. Se mantiverem a terceira pessoa do singular, nada vos pode correr mal.
O tratamento por tu nestas profissões não ajuda e até pode gerar situações de desrespeito, ofensa e violência, que é sempre o que se deve evitar, no trato social. Já médicos, engenheiros, economistas, doutores em geral, francamente pessoas, tratem-se por tu.
É por isso que a América é a terra das oportunidades e onde todos os sonhos se concretizam. As pessoas lá dizem "fuck you!". Não ficam a pensar se vão dizer: "vai-te foder!" ou "vá-se foder!" e isso faz toda a diferença. 

Outra medida que eu tenho, é um bocado mais polémica à primeira vista, mas também pretende combater uma coisa muito mesquinha do trato social. É sobre os chamados parasitas da sociedade. Aquelas pessoas que vivem há anos à conta do Estado, através do rendimento mínimo ou do subsídio de desemprego ou da pensão de invalidez e depois passam os dias todos enfiados no café. Ou o senhor que utilizou mais vezes o SNS. Ou o reformado há mais tempo.
No meu mandato presidencial, eu prometia tirá-las a todas do anonimato e condecorá-las. Ouviram bem. Enchê-las a todas de medalhas, no bom sentido da expressão.
Comigo na presidência seria este o caminho das condecorações. Os portugueses poderiam ver com os seus próprios olhos, que o dinheiro dos impostos não serve só para salvar bancos e pagar a dívida à Europa. O senhor que utilizou mais vezes o SNS era logo o primeiro. A Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique era dele, já em 2016.  

Por último sugeria que todos os bancos do país com problemas de solvência, mudassem o nome para casino. Aliás, esta era a solução que uma presidenta como eu proporia, para o caso BES. Não era dividir aquilo em banco bom e banco mau. Era deixar tudo na mesma, tirar o B e pôr um C e ficava: CES - Casino Espírito Santo. Se calhar também lhe punha mais uma borboleta do outro lado... E depois podiam continuar no “mercado”, mas restritos ao negócio dos jogos de sorte e azar. Na verdade era mais jogos de azar.

O meu mandato presidencial ia ser assim. Uma espécie de magistratura de sugestão. Parece que as minhas medidas são muito boas e vão ter alguma influência, mas não vão. É só placebo.

domingo, 10 de janeiro de 2016

GIRLS JUST WANNA HAVE FUN?

O feminismo das prostitutas versus o feminismo da minha avó. Qual ganha? 
De um lado temos as Miley Cirus deste mundo, com as suas polémicas (e despidas) actuações. E do outro as Chrissie Hynds, em defesa das ideias do tempo da nossa avozinha, que se as senhoras se vestirem bem, se se comportarem bem, se falarem as coisas certas e forem recatadas, nada de mal lhes acontece. 
Manter um braço de distância de desconhecidos, é a mais recente ideia desta escola.

A grande especialista de feminismo cá em casa, é a minha Iolanda. Para ela são ambos muito fraquinhos. O único feminismo com hipóteses de ganhar é o do Tarantino. Do género Deathproof, Kill Bill ou mesmo o clássico Jackie Brown. Se é para ser fanática, tem de ser com estilo e em grande. É o que ela diz.

Será que forma como as mulheres se vestem e comportam tem alguma influência na taradice dos homens? Ou será que um homem de bem, será sempre um homem de bem, ainda que um dia seja surpreendido no meio da rua, por uma senhora a fazer o pino sem cuecas? Não sei, mas prometo investigar. 
Admiro muito as pessoas que conseguem perceber previamente o desejo sexual de uma mulher, pela forma como ela se veste. A única coisa que eu consigo deduzir pela forma como um homem se veste, é se ele é beto e mesmo isso, desde que apareceram os hipsters, (e foderam esta merda toda!), já começa a ser muito difícil para mim. 

Esta discussão faz-me lembrar uma história, que aconteceu comigo no Verão. Tinha passado a noite num festival ao pé do rio e no dia a seguir, sentindo o princípio de uma otite, dirigi-me à farmácia mais perto. Contei o meu problema ao senhor que me atendeu e acrescentei, que naquele dia havia festival outra vez e por isso eu precisava de medicação urgente, para não ficar pior.
- O que me aconselha a tomar? – resposta do farmacêutico - Mas se lhe dói o ouvido, hoje devia ficar em casa. - Sabem o que eu respondi? – E se eu quisesse os conselhos da minha avó, não vinha à farmácia.