Ora bem, nem sei por onde começar… Acho que pelas boas notícias, que é o
que se faz, quando as notícias são muito más.
A primeira boa notícia é que o politicamente correcto faleceu. De há uns
anos para cá, que se via muita gente preocupada com o politicamente correcto,
como se o politicamente correcto fosse a nova bomba atómica e todos fossemos
morrer por causa disso. Pela minha parte, sempre achei que era mais importante
saber distinguir o certo, do errado, mas, claramente, eu é que estava enganada.
O “ser anti politicamente correcto” tornou-se um valor fundamental e foi só por
isto, mais nada, que Donald Trump foi eleito presidente da América. Entre o
sistema e um cretino do pior, os americanos preferiram um cretino do pior. Porquê?
Porque volta e meia os cretinos do pior ficam na moda e temos de aprender a
lidar com isso. Aposto, que na Alemanha dos anos 30, as pessoas que votaram no
Adolfo, também pensavam que ele era apenas um desassombrado, que tinha a
coragem de dizer as “verdades”, que mais ninguém tinha.
Como explicar esta loucura, idiotice, suicídio colectivo ou lá o que
quiserem chamar, ao resultado das eleições americanas? Muitos repetem o mantra
do costume, que o populismo é fruto de um estado assistencialista, que se mete
demasiado na vida das pessoas… Se estivéssemos a falar de Portugal, até era
capaz de comer essa patranha, mas estamos a falar dos Estados Unidos da América.
Um país que viu cidades inteiras com casas abandonadas e a classe média a viver
em parques de campismo, por não as poder pagar. Um país em que mais de metade
da população não tem acesso a cuidados de saúde decentes. Acham mesmo, que o
problema dos americanos é o tamanho do Estado?
Começo a ficar um bocado farta desta conversa, que o Estado garantir
serviços públicos de saúde, educação ou previdência social é meter-se na vida
das pessoas. Cinismos à parte, se um destes liberais de quinta – e olhem que eu
conheço muitos – enfartar, na minha frente, eu chamo ou não chamo a ambulância?
Depois a pessoa fica a pensar, que eu me estou a meter na vida dela… Juro, às
vezes, nem consigo dormir a pensar nisto.
A segunda boa notícia é que a guerra fria, se ainda existia, também
acabou e quem ganhou foi a Rússia. Sendo que, a boa notícia circunscreve-se só
à primeira parte da frase, a não ser que o Putin esteja a ler isto – nunca
fiando – e nesse caso, parabéns Vladimir! São três boas notícias para ti. Agora
o teu urso pode andar por aí, a pôr a pata onde quiser, pois se já não havia
muita gente que lhe fizesse frente, estou em crer, que com o Donald a liderar na
América, vão passar a estender-lhe a passadeira vermelha.