domingo, 20 de novembro de 2016

Em Defesa do Papel (Mas Não Muito)

"Até 2020, a maioria dos jornais deixará de imprimir" By Pedro J. Ramirez


Cada vez tenho menos dúvidas sobre o futuro dos jornais em papel, ou melhor, sobre o seu não futuro. E sabem de quem é a culpa? É dos jornais em papel. Como aquele policial cliché, em que o assassino é a primeira vítima.
Bem podem atribuir as culpas à Internet, dizendo com ar sabichão: "Ninguém vai pagar uma informação em papel, se podemos obter essa mesma informação, gratuitamente, na rede." É bem verdade... mas só é verdade, porque, de facto, é a mesma informação, não é?

Faz-me lembrar o problema da Uber ao contrário. Para ser sincera, nem sou muito sensível à polémica entre os táxis e a Uber, mas, pelo que eu percebi, a Uber presta um serviço mais barato e com mais mordomias. O único senão é que no fundo, no fundo, estamos a chamar um táxi pela Internet. Para mim, que sou um dinossauro no que toca a confiar nas novas tecnologias, é um senão muito grande.
Ora, o que os jornais em papel fizeram, para se adaptarem aos novos tempos, foi imitar a informação da Internet.  Em vez de tentarem prestar um serviço diferente e com mais qualidade - e olhem que não era assim tão difícil - quiseram prestar o mesmo serviço, em que a única preocupação são os likes e as reacções.

Não admira, há mais de dez anos que ouço esta conversa, que os nossos jornais deviam ser mais como os americanos e mostrar logo nos editoriais de que lado da barricada estavam. Para os leitores saberem a propaganda que estavam a engolir. Como se os editoriais fossem bulas de medicamentos. Aos fãs do jornalismo americano, parece-me oportuno lembrar, o bom resultado que deu. 

Sem querer avançar explicações simples, para "doenças" complicadas, os jornalistas de hoje em dia deixaram de acreditar em factos e em isenção, nem nunca ouviram falar de uma coisa chamada verdade. Tudo depende da perspectiva. Nunca lhes ensinaram, que um facto só é um facto, se for verdadeiro, se for falso, já não é. Não adianta papagueá-lo 1000 vezes - embora até eu comece a ter dúvidas sobre isto.
Não sei se me estou a fazer entender... Vou tentar com o futebol, tenho mais facilidade em explicar problemas complicados, com metáforas futebolísticas. 
O jornalismo em papel achou, que o jogo era mais claro e sério, se em vez de existir um árbitro a apitar o jogo, existissem dois árbitros, cada um a jogar pela sua equipa. É isto o quarto poder hoje em dia, ou seja, não é um poder. Foram logo os primeiros a vergar ao populismo.
Ninguém paga para ler propaganda e os jornais em papel são repositórios de propaganda. Da Internet uma pessoa já espera isso, põe o filtro e até se ri um bocado, mas o jornalismo em papel costumava ser outra coisa. Não esta informação mastigada, cheia de maquilhagem, só com os factos que interessam, para tirar a conclusão que o editor manda. Quem arranjar os melhores factos, para a conclusão que já tirou, ganha o jogo.
E assim se cria uma sociedade de broncos, que não sabe pensar. Não admira que eles comecem a chegar ao poder.

Por outro lado, continua a ser o melhor material no mercado para limpar vidros.