sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

À Guerra, o que é da Guerra!

Estou a pensar seriamente em abandonar as redes sociais. As pessoas estão cada vez mais esquizofrénicas e basta acontecer uma tragédia, para isso vir ao de cima. A última foi o ataque hediondo feito à revista Charlie Hebdo. Primeiro apareceram os que "são Charlie". Seguiram-se os que diziam "serem Charlie", mas que eram só eles que eram, apontando ferozmente o dedo a quem não era Charlie. E, cereja no topo do bolo da acefalia, acordo esta manhã e já há pessoas que se assumem orgulhosamente como: "não sendo Charlies". Sendo que, ainda ontem abriam as goelas, a dizer que eram do mais Charlie que havia... Neste caso do Charlie Hebdo, verdade seja dita, somos mesmo quase todos Charlie, por muito que isso irrite e desagrade alguns heróis do politicamente incorreto. Porque não é preciso gostar de humor negro, para condenar sem hesitação ou reticências, o massacre feito aos jornalistas do Charlie Hebdo. Tal como também não é preciso ser pobre, iliterato e andar de chanatas, para se ser de esquerda - embora ajude bastante, admito. A Ana Gomes quase foi insultada, por ter dito que as políticas de austeridade fomentavam o terrorismo. Uma afirmação, que não é preciso ser um génio, para entender o alcance. O terrorismo desenvolve-se melhor, onde as pessoas vivem pior. Uma Miss Universo não teria resumido tão bem! É como dizer que o frio aumenta o número de casos de constipações, quando está em causa um surto de Ébola. No entanto, não deixa de ser uma afirmação verdadeira e nem a Ana Gomes deve deixar de ser Charlie por causa disto. As políticas de austeridade e cortes cegos provocam sempre um aumento da criminalidade, e também um aumento dos casos de mortes por doenças, frio, má nutrição, etc. – de La Palisse, onde quer que estejas, um grande bem-haja para ti! Outra vítima da esquizofrenia da net, Gustavo Santos, um guru da vida em geral e comediante de sucesso, (embora involuntário), nas horas vagas, deve estar para ser chacinado, a qualquer momento, por ter dito, que as pessoas que fazem humor negro ou piadas de gosto muito duvidoso, põem a sua vida em risco. É bem verdade, caro Gustavo! Quantas vezes já senti isso na pele. Se isto não é de Charlie... É muito difícil fazer humor sem ofender as pessoas, não por causa do humor em si, mas pelas pessoas à nossa volta, que mesmo quando a carapuça não lhes fica bem, gostam de vesti-la. Assim de repente, from the top of my head, lembro-me para aí de duas pessoas, que talvez não sejam Charlie, o Papa Francisco e o Dalai Lama. Não me lembro de alguma vez qualquer um deles ter dito alguma coisa, que pudesse despertar o ódio ou ferir suscetibilidades e se alguma vez o fizeram, deve ter sido de uma modo tão suave e ternurento, que não são Charlies, não podem ser, não o merecem!!! Ah! E a minha mãe, que está ligeiramente acima de Deus, também não é Charlie. De resto, acho que somos mesmo quase todos. Por último, uma confissão, (espero não deixar de ser Charlie por causa disto), penso muitas vezes em matar pessoas a tiro e um jornalista em particular. Não com uma Kalashnikov. In my wildest dreams, era mesmo uma caçadeira de canos cerrados. Depois entraria destemida pelos estúdios da TSF adentro, chamava bem alto o nome do “condenado” e pumba! É que já ninguém aguenta mais as tuas musiquinhas da treta, João Ricardo Pateiro. A maioria das vezes não rima e quando rima é pior ainda – “Aí vai o Talisca e se o Talisca não arrisca, o Talisca não petisca… PUM!!!” – digo eu, imaginando que lhe espeto um balázio com a minha futura caçadeira de canos cerrados. Era um descanso para todos os que gostam de ouvir futebol. Foi a única lição que aprendi com este ataque ao Charlie Hebdo, que não posso levar o futebol tão a sério e devo passar a ouvir os relatos na Renascença ou na Antena 1, é o melhor.