Desde miúda que acalento um pequeno Napoleão
dentro de mim. Começou com as Caxinas. Eu e mais dois amigos decidimos criar um
movimento, para que as Caxinas passassem a fazer parte da Póvoa. Eramos as
FLAC. A Frente para a Libertação e Anexação das Caxinas. Chamo a vossa
atenção para o pormenor de que primeiro iríamos libertar e só depois anexar as
Caxinas. Faz toda a diferença.
Não eramos violentos. Aliás, a nossa grande
estratégia para a libertação e posterior anexação das Caxinas era muito
simples. Íamos remover a placa que dizia: "Bem-vindo a Vila do
Conde" e coloca-la depois das Caxinas, ali na foz do Rio Ave, esperar 20
anos e adquirir as Caxinas por usucapião. Na altura parecia uma grande
ideia... mas não foi. O máximo que conseguimos não chegou a um ano e
depois da primeira vez que nos toparam, nem uma semana conseguíamos ter as
Caxinas do nosso lado. Aparecia sempre alguém para repor as fronteiras. Um
dia, o meu pai chegou à minha beira e disse:
- "Olha lá! Sabes alguma coisa sobre
aquela história de andarem a mexer nas tabuletas de Vila do Conde?"
- " Por acaso sei. Acho que são as
FLAC, que é um movimento que quer que as Caxinas passem a fazer parte da
Póvoa... Não achas fixe? As praias das Caxinas serem nossas?"
- "O que eu acho fixe é que acabes com essa
merda, antes que isso dê problemas a sério, pode ser?"
Encontro este mesmo tipo de mentalidade
pequenina, quando digo às pessoas que devíamos investir na reconquista da
Galiza. Porque a Galiza é a melhor parte de Espanha. Porque a Galiza fala
galego e o galego, toda a gente sabe, é português com sotaque espanhol. Porque
a Galiza tem a melhor comida e as cidades mais bonitas. Porque fica mal no
mapa, aquela parte de cima do retângulo ser de Espanha. Sei lá... São
tantas boas razões para a reconquista da Galiza. E as
pessoas respondem-me: "Mas se a Galiza nunca foi nossa, como é que tu
queres reconquistar a Galiza?". Estão ver? Com esta atitude não vamos
de certeza... Aposto que o Pedro e o Vasco não tinham de aturar estas merdas
quando estavam a descobrir o Brasil ou a abrir caminho até à Índia.
Ultimamente, o meu pequeno Napoleão anda de olho
no Curdistão. Mas um Curdistão a sério, com tudo aquilo a que tem direito: um
pedacinho da Síria, um pedacinho do Iraque - que até já têm - mais um
bocadinho do Irão, um niquito da Arménia e um belo pedaço da
Turquia. E isto nem era por amor ao Curdistão, era só para não
se armarem em parvos ali no Médio Oriente. Ao contrário da Galiza, não sei
se o Curdistão tem as cidades mais bonitas ou se a língua deles dá
para aprender a falar. Sei que são multiétnicos, que respeitam a
liberdade religiosa, que aplicam o parlamentarismo e fomentam a
diversidade partidária e que são os únicos naquela zona preparados para viver
em Democracia, pois já o fazem todos os dias e no pior dos cenários.
Ora, pensando nisto tudo, decidi fazer aqui
uma proposta séria, a todos os vileiros, espanhóis e - como dizer isto?
- "psicopatas" do Médio Oriente em geral. É o que se segue:
Os vileiros, que estão aqui mais próximo, são os
que levam a melhor oferta. Nós ficamos com as Caxinas e, em troca, (acho que os
poveiros estão todos comigo nisto), vocês ficam com Argivai. Reparem!
Estamos a oferecer-vos uma freguesia inteira por meia dúzia
de praias. Parece-me irrecusável.
Espanhóis, para vocês, tenho aquilo que sempre
quiseram. É isso mesmo!! Em troca da Galiza ficam com as Selvagens todas para
vocês. A Grande, a Pequena, a Média, as caganitas... Enfim, todas aquelas
ilhas do Atlântico e aquele mar todo até à Madeira fica para vós. Nem
nos fazem falta, que calhaus é coisa que temos de sobra no país e, se acharem
pouco, prometemos, também, não insultar as vossas mães da próxima vez que
se discutir Almaraz. Não podem dizer que não é uma proposta
tentadora...
Já o Curdistão é um caso à parte. Em primeiro
lugar, porque, ao contrário dos anteriores, não é um problema de ficar bem ou mal
no mapa. E, em segundo lugar, não tenho nada para vos dar em troca,
"psicopatas" do Médio Oriente. Assim, só sobra uma opção: ajudar
os curdos a conquistar e construir o seu grande Curdistão, que tem o seu território bem delimitado e conhecido de toda a gente, servindo de castigo
e ameaça a Bashares, Erdoganes e aos outros tiranetes
que por ali dominam. Maior ou menor, todos são uma ameaça aos valores do
Ocidente. O Curdistão não é...