Tenho pensado muito em palermas nos últimos tempos. Qual a
melhor forma de lidar com um palerma? Devemos ignorar um palerma, mesmo que ele
não nos deixe em paz? É possível livrarmo-nos de um palerma, sem termos de o matar?
São dúvidas para as quais tenho procurado resposta e até agora cheguei a estas
parcas conclusões: não sei; talvez; sim!
Tudo começou com um cartoon no DN. Nem era
preciso o desenho para ter piada. Ou se calhar era, mas vou tentar na mesma.
Mostrava três talibans e o mais velho dizia aos dois mais novos: “Se querem que
um livro se torne eterno, atirem-no a uma fogueira”. O livro era o Corão, a frase não sei se era mesmo esta, mas a ideia era.
Acontece o mesmo com as pessoas. Se
quiserem fazer de um palerma, um herói, ameacem-no de morte.
Às vezes nem é preciso ir tão longe.
Experimentem só proibir um palerma de falar. É um bocado como aquele mito das
formigas. Se mandas calar um palerma, aparecem logo mil palermas a defendê-lo.
São muito corporativos os palermas. Por isso é sempre bom deixar o palerma falar
até ao fim. E, depois do palerma acabar, bocejar, espreguiçar bem os braços e
ir embora.
Nunca – mas mesmo NUNCA! – ameaçar a
integridade física do palerma. É o pior que se pode fazer. A partir daí obrigamos
todas as pessoas de bem, a tomar uma posição, para defender um palerma. As
pessoas de bem não merecem que lhes façam isso. Com toda a certeza devem ter
coisas mais importantes a fazer na vida do que defender palermas.
Tenho também uma outra técnica para lidar
com palermas, mas ainda está em fase experimental. Funciona assim: o palerma
vem para falar comigo e eu faço de conta que sou autista. Olho para ele
fixamente de olhar perdido no vazio – às vezes até me babo um bocadinho, para
dar mais credibilidade à cena – e não digo nada. Tenho tido bons resultados,
mas pode ser um processo moroso.
E toda esta preocupação com
palermas por quê? Prometi a mim mesma, numa resolução de um ano novo qualquer,
não defender palermas. Criminosos tudo bem. Palermas? NUNCA! Mas tem sido muito difícil manter a minha
resolução. Todos os dias é um novo palerma que aparece a precisar de defesa. Bem
sei, não são tempos fáceis para os palermas e alguém tem de os defender, mas
faço aqui um apelo: Por favor, não mandem palermas para o Tribunal, só
por serem palermas!
O pior pesadelo de um advogado é ter de
defender um palerma em juízo. A única coisa pior que defender um palerma,
deve ser apanhar um juiz palerma. E agora que penso nisso, até acho que deve
ser melhor apanhar um juiz palerma. Pelo menos do teu lado está tudo controlado.