A “novela Sócrates”
vai continuar por mais três vezes.
Por um lado, ainda
bem. Depois da procissão à cadeia, espera-se agora – eu ouvi falar nisso – uma
vigília nocturna de apoio ao preso nº 44.
Que bem precisa,
após esta última polémica com o primeiro-ministro. O homem não se contém. Ouve
falar de trafulhas em cargos políticos e salta logo da cadeia a gritar: “Isso é
comigo?! Miseráveis!” Ou me
engano, ou são este tipo de respostas sem pergunta, que o vão tramar em
julgamento.
Já Passos Coelho não
tem razão, ao dizer que, “como uns e outros”, não enriqueceu, nem “retirou
nenhum benefício”, à custa do Estado.
Pode não ter
enriquecido à custa da política e se assim for, muito mérito para ele, que as
tentações são grandes. Mas não pagar à segurança social, durante 5 anos, ou lá
o que foi, segundo todas as perspectivas da matemática e da economia é, lamento
dizer, enriquecer à custa do Estado.
Enriquecer pouco,
muito pouco, se comparado com o que vemos por aí – e graças a Deus, que o
Estado não aguenta todos a enriquecer aos milhares e milhões – mas ainda assim
enriquecer, o que não faz dele muito menos trafulha, apenas mais palerma.
Mas voltando ao nº 44,
o problema maior, é ele não ser apenas o nº 44 de Évora.
Ao que parece, em Évora,
o senhor engenheiro é o nº 44, o 45, é o gabinete do subdirector, é o que ele
quiser.
Se alguém tinha dúvidas
sobre a possibilidade de fuga, do preso, político, mais famoso do país, quanto à
perturbação do inquérito, não há dúvidas. Basta ver a forma como o senhor
engenheiro perturba as televisões, os jornais e a própria cadeia de Évora, onde
está instalado e temos uma ideia da perturbação que ele faria cá fora e que
deve ter feito, enquanto primeiro-ministro.
O outro problema, é
que até o mais leigo já percebeu, que a nossa polícia, não só prende para
investigar, como deixa-os presos, por não quererem falar. Os que falam e
colaboram vêm cá para fora. Os que não querem falar, ficam lá dentro, a meditar.
Parece-me uma
interpretação um bocadinho extensiva da lei e da expressão medidas de coação.
A propósito, tenho
lembrado as palavras de João Soares, à data da detenção: não se prende um
ex-primeiro ministro, a não ser por crimes de sangue. E eu acrescento ainda, não
se prende qualquer pessoa, a não ser por crimes de sangue e muito menos um
ex-primeiro ministro, numa cadeia que ele mandou construir e com um subdirector, que lhe
empresta o seu próprio gabinete.
Pelos crimes de
que está acusado, o senhor engenheiro pode estar preso preventivamente – e ser
presumivelmente inocente – até Março de 2018. Ora, se ao fim de uns meses, ele
já tem o seu próprio gabinete e usa as botas, o édredon e o cachecol que bem
lhe apetece, é mais um ano e temos ali um califado socrático a nascer.
Por isso, eu
defendo, soltem os prisioneiros!
Não
digo soltar todos os prisioneiros, mas há criminosos – como o nº 44 de Évora -
que não faz sentido afastar do convívio social e até pode ser perigoso manter
na cadeia.
Falo
dos meliantes dedicados ao crime económico. Sou contra metê-los na cadeia.
Fechem-nos em casa, ponham-lhes pulseiras, brincos ou colares, mas a cadeia,
acho mal.
Se
a pessoa não é violenta, nem um perigo público, não faz sentido.
Os trafulhas não violentos podem ser pessoas agradáveis, amigas do seu amigo e o nosso sistema penal tem de lidar com esta gente, anulando e prevenindo os seus instintos ilícitos, sem privar os cidadãos do convívio com amigos, pais, maridos, filhos, que vão parar a cadeia por corrupção, fraude fiscal, burlas, corrupções…
Os trafulhas não violentos podem ser pessoas agradáveis, amigas do seu amigo e o nosso sistema penal tem de lidar com esta gente, anulando e prevenindo os seus instintos ilícitos, sem privar os cidadãos do convívio com amigos, pais, maridos, filhos, que vão parar a cadeia por corrupção, fraude fiscal, burlas, corrupções…
Mesmo depois de condenados, a minha sugestão é: em vez de os prender, porque não, incapacitá-los? Não digo fisicamente – cortar mãos, partir-lhes a coluna, apedrejá-los… - nada disso. Incapacitá-los, juridicamente falando.
Até
porque, não tenhamos dúvidas, nos dias que correm, quem não sabe gerir dinheiro
e reiteradamente é apanhado em negócios, que ou são suicídios financeiros ou
golpes económicos, não tem de ir parar a cadeia, pois ele é, à sua própria
maneira, um atrasado mental.
Deve
ficar inibido de concorrer a cargos públicos ou com qualquer tipo de
responsabilidade económica e ser-lhe nomeado um tutor, para gerir o seu
dinheiro, unicamente adquirido a partir do seu trabalho, declarado e
fiscalizado.
É uma ideia que deixo, nada mais. Eu até gosto da novela Sócrates…