Faz agora sensivelmente um ano, li um ensaio no Público de que me tenho lembrado cada vez mais nos últimos tempos. Chama-se "Angola: riscos de uma sociedade civil circular" e podem lê-lo em:
E se o tema do ensaio é a democracia angolana e os angolanos - e absolutamente obrigatório para o meu piipôôôô the Luanda! - as (apuradas) críticas e os (bons) conselhos do mesmo, podiam ser sobre qualquer outra luta, por melhor vida e melhor democracia, num outro país e com qualquer outro povo.
Costumo dizer para os meus botões, quando leio uma análise tão clara e assertiva, que esta pessoa tem as lamparinas todas acesas dentro do juízo. E a inveja que tenho disso! A minha cabeça é um lugar inóspito, cheio de nevoeiro e lixo. Quantas vezes já pensei também, que a denúncia até à exaustão dos problemas, não ajuda ninguém, é deprimente e gera nas pessoas alarme, (na melhor das hipóteses), ou desânimo, (na pior) - já lá dizia o grande Churchill.
E que as pessoas que fazem isto, sem o mínimo esforço de apresentar uma "luz ao fundo do túnel" e se acham geniais, ou são muito estúpidas, ou são muito mal-intencionadas.
É que há mais de 10 anos que tenho um vislumbre destas ideias na minha cabeça e ler este ensaio do Público, foi como se o nevoeiro se dissipasse todo. Ou como se de repente toda uma cave escura se iluminasse dentro do meu juízo.
Se calhar aproveito para fazer aqui um reach out ao Professor Domingos da Cruz: se alguma vez precisar de um sítio aqui em Lisboa, onde ficar, as condições aqui na minha cabeça são miseráveis, mas como diz o outro, é "rent free"! Quem é que eu quero enganar?! Até lhe pago! Só para vir cá de vez em quando acender as luzes, a fazer de conta que mora alguém.
Sobretudo no jornalismo é onde mais vejo esta vontade de estar constantemente a instigar o medo e o desalento, com a denúncia até à exaustão dos problemas, num formato programado para anestesiar, nunca para acordar.
Bem sei que estou sempre a "bater" nos jornalistas, mas se dantes o meu problema com o jornalismo, era aquela mania irritante de reportar os dois lados, como se falar sobre temas políticos e de sociedade, fosse a mesma coisa que fazer relatos de futebol - Não é! Isso é mais arbitragem. Até uma porteira consegue fazer essa merda do "both sides". E se for mesmo boa, não vos conta só dois lados, conta para aí três ou quatro lados da mesma história.
Agora é pior ainda que o "both sides". Esta vontade de apenas informar da maldade, fraqueza e resignação, sem nenhum interesse sério em reportar sobre superação, o que é certo e a coragem necessária para o fazer. A quantidade de jornalistas, que passam horas e horas a olhar para o abismo e tão fascinados com ele, que às vezes não consigo entender, se o problema é não terem coragem para saltar e estão à espera que alguma alma caridosa os empurre para lá?!
Ora, com franqueza, tenho a certeza que esta MERDA também não é jornalismo. Catastrofismo? Talvez?! Amadorismo? Certamente! Jornalismo é que não é de certeza! Façam melhor pá! Se calhar ganham menos dinheiro ao fim do mês, mas vão ver que dormem melhor à noite. E nós também. I know I will…