Há
uns meses atrás, o Público trazia uma entrevista do escritor espanhol, Arturo
Peréz-Reverte, a propósito do último livro, "Homens Bons". Do livro
ainda não posso falar, que mal passei o começo - são muitas solicitações! - mas
a entrevista, depois de ler outra vez, aqui pela Internet, recomendo vivamente
a todos. Há sobretudo uma parte, que é tão genial, que não consigo deixar de a
citar aqui. Cá vai:
"Às
vezes pego num livro, e penso: este tipo, para que escreve ele? A quem importa
saber que ele se levantou de manhã, que tem uma vida triste, que a mulher o
deixou, que o seu filho é drogado, que se sente asfixiado pela vida… Para isso
não vale a pena ler. Basta olhar em volta. O que eu quero é que me contem
histórias interessantes, que me façam reflectir, pensar, sonhar, que mudem a
minha vida."
Fico
com vontade de beijar este homem na boca, de cada vez que leio isto. E digo
mais, se o vosso trabalho é escrever livros, fazer filmes, tocar música, pintar
quadros... escrevam isto num post-it e colem na porta do frigorífico, ou do
mini-bar, se for mais esse o caso. Não vão encontrar conselhos muito melhores
que este por aí.
Nunca
percebi esta mania de pôr a vida real no cinema e a ficção no telejornal, mas
entre uma e outra, acreditem que prefiro a segunda, apesar dos problemas que
tem dado. E foi muito por causa disto,
que há cerca de dez anos, tomei a decisão de não ver mais cinema português.
Confesso, o cinema português é um dos meus ódios de estimação.
A
gota de água, se não me falha a memória, foi o "Odete" do João Pedro
Rodrigues, que fui ver com a Gorda. Uma história pirosa, quando não confusa e
muito mal representada. Quando saímos da sala de cinema, depois daquela valente
seca, estava tão furiosa, que disse à Gorda: "Para ver cinema português,
não contas mais comigo. Acaba hoje, acaba aqui!" E assim foi.
Já
passei por muito com o cinema português. Pela mesma altura fui ver um filme do
Pedro Costa, também ao cinema, já nem me lembro qual, que são todos iguais, e
saí da sala a pensar, que tinha pago 5 euros, para ver uma grande reportagem do
telejornal das oito. Aliás, pior, que as pessoas entrevistadas no telejornal
das oito não estão preocupadas em fingir que são actores.
Por
acaso, no Verão, fui ver "As 1001 Noites", no auditório ao ar livre
da Gulbenkian. Sou sincera, só fui ver, para poder falar mal... Mas não é nada
mau, apesar de serem mais de seis horas e haver cenas em que não se passa
absolutamente nada, está ali um bom trabalho. O que mais gostei foi não se
perceber muito bem, se aquelas pessoas do campo que entram no filme são muito
bons actores a fazer de campónios, ou se são muito bons campónios a fazer de
actores. É uma grande comidela de cabeça e dá uma magia ao filme, que combina
muito bem com aquela aura de 1001 noites.
Lembrei-me
disto tudo por causa da estreia do filme: "I, Daniel Blake". Não há
uma alma que o tenha visto, que não tente convencer o próximo a ir vê-lo também.
Poupem-me! As pessoas não vão ao cinema para se ver ao espelho. Digo mais, usar
os dramas reais das pessoas, como entretenimento de série B, além de ser
deprimente, não tem nada de original. Já temos o Facebook e a Casa dos Segredos
para isso.
A
última vez que fui ao cinema, foi para ver o "Animais Nocturnos" do
Tom Ford. Não vou dizer se é muito bom ou muito mau, só vos vou dizer, que ao
fim de meia hora de filme, estava de tal forma incomodada, que até pensei que o
coração me fosse saltar pela boca fora e sair do cinema, deixando-me lá sozinha.
A senhora de idade sentada ao meu lado, às vezes suspirava tão alto, que
cheguei a temer que lhe desse algum fanico e eu fosse chegar ao intervalo com
um cadáver ao meu lado. Felizmente, a tensão vai diminuindo ao longo do filme e
eu e a velhota conseguimos sobreviver até ao fim.
Agora perguntem-me, se eu vou
estar na primeira fila, quando estrear o próximo filme do Tom Ford? Não, não
vou, vou estar na do meio, que é de onde se vê melhor. Mas da próxima tomo um
ansiolítico antes e se calhar despeço-me da família, just in case...