Quando eu era miúda tínhamos quatro cassetes no carro, para ouvir durante
as viagens. Naquele tempo as viagens de carro duravam muito tempo. Uma
viagem para o Algarve, por exemplo, era coisa para demorar um dia inteiro.
Aliás, foi durante uma dessas intermináveis viagens para o Algarve, que a minha
cassete laranja e preta dos ABBA desapareceu. Era a minha favorita. Depois
havia uma dos Beatles, outra dos Beach Boys, das quais gostava igualmente, e o
raio do Bob! Não era nada fã do Bob Dylan em criança. Achava aquilo tudo igual
e a gaita não ajudava. Ninguém que queira ser levado a sério toca gaita, pensava eu.
Gaitas e pandeiretas é logo um mau princípio. Apetecia-me agarrar na cassete e
atirar com ela pela janela fora, que foi o que deve ter acontecido, com a minha
cassete dos ABBA. Mas com o passar dos anos passei de achar que o Bob Dylan era
muito mau, para achar que era muito bom, sem deixar que ainda assim é um bocado
mau. Tipo os Depeche Mode no início dos nos 80, que são muito bons e muito maus
tudo ao mesmo tempo.
Não entendo é que possa ser polémico, o Bob Dylan ser o mais recente
prémio nobel da literatura. Qual é o vosso problema?! É a música que estraga?
Se for por causa da música, entendo. Poemas tão bonitos, histórias muito bem
contadas e a estragar, aquela voz de cana rachada e uma gaita a acompanhar. Parece
fazer pouco da literatura, não é? Mas não deixa de ser literatura por causa disso.
Às vezes tenho dúvidas é que seja música, até porque já o vi ao vivo. E por
isso também não entendo a polémica. Sabem quantos grammys ganhou
o Bob Dylan? Ganhou 14 grammys. Inclusive em 1980, em 1998 e em 2007, Bob Dylan
ganhou, nada mais, nada menos, do que o grammy da melhor performance vocal do
rock. Como é que acham que o Leonard Cohen se terá sentido nessa altura?
Já o nobel da literatura não devia chocar ninguém. Os discos podiam ter uma etiqueta a dizer isso mesmo: “Isto não é bem música, é mais literatura”, e as pessoas já sabiam ao que iam, antes de ouvirem Bob Dylan. O Just Like Tom Thumb’s Blues é quase um argumento de um filme, enfiado numa canção. Mete uma cidade perigosa, degredo, putas, polícias que não querem saber, um amor de merda e um final com regresso a casa. Olha não é escritor…
Já o nobel da literatura não devia chocar ninguém. Os discos podiam ter uma etiqueta a dizer isso mesmo: “Isto não é bem música, é mais literatura”, e as pessoas já sabiam ao que iam, antes de ouvirem Bob Dylan. O Just Like Tom Thumb’s Blues é quase um argumento de um filme, enfiado numa canção. Mete uma cidade perigosa, degredo, putas, polícias que não querem saber, um amor de merda e um final com regresso a casa. Olha não é escritor…
Por tudo isto e para algo completamente diferente, o óscar de melhor actor,
no próximo ano, devia ser entregue ao Alec Baldwin, pelas participações nos sketches
do SNL, a imitar o Donald Trump. Da primeira vez que vi cheguei a pensar que
tivessem convencido o próprio Donald Trump, a fazer dele mesmo, o que também
teria sido hilariante, aposto. É muito bom! Estou tão viciada naquilo, que até
já sei as falas de cor.