quarta-feira, 16 de abril de 2025

Se fosse fácil...

 Durante muitos anos achei que o melhor filme da minha vida era o Fiel Jardineiro. Aquele final com o primo Ham, a ler uma epístola, não canónica, ia dando comigo em doida. Comecei a rir e a chorar ao mesmo tempo, como se tivesse perdido completamente a sanidade mental e por momentos pensei que nunca mais a fosse recuperar, tal foi o abanão que apanhei. 

Já o meu livro favorito, (e muito provavelmente pelos mesmos motivos), é o clássico do Kingsley Amis, Jim o sortudo - aposto que vos surpreendi com esta! - não tanto pela personagem principal do Jim, mas pelo facto de ele ter um amigo como o Bill Atkinson, que é o que verdadeiramente faz do Jim um gajo cheio de sorte. Um amigo, que em situações de presença obrigatória e de profundo enfado, te diz coisas como: "Diz ao Johns onde é que pode enfiar o oboé antes de te ires embora." - e que é na caixa apropriada dele. Onde mais haveria de ser, suas mentes perversas! Já viram o tamanho dum oboé? Ainda estragam o oboé - E que em situações de stress e embaraço venha para te salvar, fingindo "um bom desmaio".

Toda a gente devia ter um amigo, assim genial, como o Bill. Daquelas pessoas que te estão sempre a pôr para cima e nunca te deixam cair. Ou um primo como o Ham, que não sendo propriamente um justiceiro, quando lhe cai no colo a responsabilidade para conseguir alguma espécie de Justiça, ele escolhe o sítio certo e a mais finest hour para o fazer. Sem medos ou hesitações. Pontapé na mesa e quem quiser que apanhe os cacos. É brutal! Se querem que vos diga com toda a sinceridade, é mesmo este o tipo de pessoa que almejo a ser um dia e tenho dito.   


O meu mais novo filme da minha vida, vi-o há umas semanas na televisão e é tão antiguinho, que até fico com vergonha de dizer que só vi agora. E foi uma sorte tê-lo visto, com aquele título: "Tempo de Matar", julguei que fosse o filme do Steven Segal, com a senhora da Baywatch e pensei pra comigo: "Em memória do Prigozhin vou ver. He was just a cook. RIP!" (NOT!) Só que afinal não tinha nada a ver e ainda bem. Que grande filme!   

O que mais me intriga, comove, chateia é como o advogado da história fica completamente sozinho, a lutar pelo que está certo. Acho que ele nem se apercebe disso. Coitado! Ou abençoado! Nem sei... E como este filme está cheio de cobardes, que se acham uns valentões, por passar o tempo todo a azucrinar a paciência dos outros. Como detesto esta gente! 

Aquela coninhas de merda, fútil, da mulher dele, a primeira vez que me viesse com aquela conversa do "a tua filha chega da escola a chorar, porque lhe dizem não sei o quê e muá muá muá tu não queres saber muá muá muá", rais a parta! Ela ia mesmo viver com a puta que a pariu e nunca mais voltava! Odeio betas!

E aquela aventesma de secretária, assistente pessoal, empata-fodas, ou lá como é que se diz, o que é que esta senhora está a fazer, a trabalhar num escritório de advogados? Não estava melhor em casa, a coser meias, ou a lavar loiça, onde certamente não se punha a ela, nem à família em risco?! Sempre a buzinar no ouvido do homem, como se fosse ele a fazer alguma coisa de errado. O asco que tenho a este tipo de pessoas, nem tenho palavras para o descrever.

E o outro causídico amigo dele, o Dr. Mete-Nojo, mais um a demonstrar que não encontras amigos Bill, nem primos Ham, neste filme. Só Joãos Cagões e Marias Mijonas. Valha-nos o cão, a provar que mais que o melhor amigo do homem, quando os tempos apertam, é mesmo capaz de ser o único com que podes contar. 

Mas voltando ao Dr. Mete-Nojo - ou em inglês, Mr. Gross-Me-Out - tanto dinheiro e tão pouca personalidade. Parece a minha Gorda. Também gosta de encher a boca a dizer que é de esquerda, mas depois come a propaganda toda da extrema-direita ao pequeno almoço, como se não houvessem pãezinhos quentes e croissants em cima da mesa. E quando lhe chamo a atenção, que estamos na quaresma e ela prometeu fazer abstinência da propaganda da extrema-direita até à páscoa, a burgessa responde-me que tem uma filha pequena, como se ter filhos pequenos, fosse desculpa para abocanhar a propaganda fascista.  

Já a avisei, se apanho essas mãozinhas sapudas, a votar na extrema-direita, corto-te as fora e faço uma mão-de-vaca digna de pôr este país no livro do Guiness World Records - COMIDA OUTRA VEZ?! - Tenta-me! 

(Gordofobia?! Onde?? Não é nada! Olha, agora, chamar a polícia? Nem sei cozinhar! Estejam lá quietos, que ainda não acabei.)

A verdade é que fazer o que está certo, na maioria das vezes, implica correr riscos, ser antissocial, radical e até ficar sozinho na linha da frente de batalha contra o inimigo. Se fosse fácil não seria o que está certo. Por que é que acham que há tanta gente do outro lado?